Carlos Carvalheiro
Há mais de dez anos (2003 Set 27)
escrevi este texto para ser lido na Rádio Hertz. Pergunto-me se será útil
relembrar-me dele…
Tomar é mesmo uma cidade cultural?
Tem sido cada vez mais veiculado que Tomar é
uma cidade cultural. Eu próprio tenho ajudado a divulgar esse conceito. Mas
aqui para nós, que ninguém nos ouve, corresponderá isso a uma realidade ou a um
desejo?
Há uns anos (e falo de 20 anos), quando
começou a haver uma variada ativação de manifestações culturais em Tomar, era
audível na cidade a opinião de que a cultura estava ligada aos comunistas e
que, portanto, os verdadeiros motivos de quem desenvolvia actividade cultural,
eram outros e naturalmente mais sombrios. O tempo demonstrou que essa opinião
estava errada: quem se dedicava e dedica às actividades culturais é bem pior e
mais persistente que essa rapaziada crente que um muro como o de Berlim é um
garante de liberdade.
Porque, contrariamente a estes, que pretendiam
uma organização social centralizada no Estado, moralista e moralizadora do
comportamento do cidadão, enquanto forma de regular e regulamentar a sociedade,
os activistas culturais têm conseguido fazer mover o poder local, sem dúvida a
reboque, mas a mover-se, no sentido de tornar Tomar numa cidade cultural, ou
seja, diversa, ecuménica e potenciadora da melhoria da qualidade da vida,
material e espiritual.
Claro que isto, dito assim,
poderá provocar o comentário de que presunção e água benta cada um toma a que
quer. E, no entanto, esses que se posicionavam contra a actividade cultural, e
alguns há ainda vivos e vivaços, já não se atrevem a dizer em voz alta ou a
escrever por outras palavras que quem anda nisto da Cultura ou é comunista ou
paneleiro ou puta ou drogado ou tudo junto.
Hoje em dia fica bem falar bem da Cultura. E
ainda bem.
Só que os senhores que mandam nisto, e estou a
falar dos que foram eleitos, levam anos de atraso neste assunto da Cultura. Já
perceberam que a questão cultural é incontornável em Tomar. Mas insistem em não
se envolveram paritariamente com quem anda no terreno e olham para a Cultura
como uma ferramenta ou um trampolim ou um meio para o exercício do poder. Ainda
falta o seu tempo até perceberem que a Cultura é um fim e é o Poder que é uma
ferramenta ou um trampolim ou um meio para o atingir.
E então, Tomar cidade cultural é uma realidade
ou um desejo? As duas coisas. Mas é isso que é bonito nas utopias.
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