António Pedro Costa
Quem já não ouviu a expressão “palavra de honra”? Por certo todos nós já
ouvimos, já o dissemos. E agora pergunto a quem lê estas palavras, há quanto
tempo não ouve tal expressão? Curioso pormenor, curiosa expressão que caiu em
desuso, que por um lado causa estranheza, por outro, seguiu talvez um caminho
natural na sociedade em que vivemos.
Se olharmos para o aspecto sociológico da questão, o descostume da
expressão “ palavra de honra” demonstra muitos fenómenos a vários níveis, mas
principalmente ao nível sociológico. Vivendo tempos conturbados, onde temos um
país com uma economia precária, situações financeiras das famílias e das
empresas difíceis, é natural que provoque uma crise em vários níveis, e o nível
dos valores é por demais afectado.
Temos vários exemplos na sociedade portuguesa, onde a crise de valores é
latente. Basta ligar o televisor das nossas casas, e ver alguns programas que
vão para o ar e temos a prova como a nossa sociedade vive, e ao que parece
gosta de viver. Tudo aquilo que assistimos através dos ecrãns televisivos é
por demais evidente. Não é preciso referir o nome do programa, mas naquilo que
consiste certo saberão do que falo. Um programa onde tem como objectivos testar
pessoas numa casa, com jogos de intrigas de mentiras tudo por um objectivo, dar
entretenimento (?). De referir que é este tipo de programa que dá audiência. Não
posso criticar quem vê e gosta deste tipo de programas, mas posso observar que
muita coisa corre mal na nossa sociedade quando o número de inscrições de um
reality show é superior ao número de inscritos para o ensino superior.
No espectro político apresentam-se algumas semelhanças. A classe
política está completamente fragilizada, as pessoas estão cada vez mais
“desligadas” do debate político e dos políticos, e em boa verdade porque não há
palavra…não há honra nas palavras, e não se cumpre! Podemos assim dizer que a
classe política está um verdadeiro reality show. Os programas eleitorais mal
estruturados e falsas promessas, as promessas feitas que dão a origem a
promessas falhadas, e muito importante, os discursos onde se usam as palavras
em tom convincente, mas sem HONRA, sem respeito por quem acredita nos discursos
convincentes.
A palavra de honra tem um simbolismo forte. Representa para quem diz,
uma forma de transparência. Fazendo uma análise aos “nossos” mundos, quantas
palavras sem honra já ouviram? Ou há quanto tempo não ouvimos palavras com
honra? São tudo perguntas de reflexão. Toda a veracidade que usamos nas palavras,
não deve ter só, apenas a palavra de honra mas todo o acto e prática em si…com
Honra!
Creio que precisamos de numa regeneração dos valores da sociedade. É
também tempo de não reclamar só direitos, mas também exigir os deveres. Existe
a Carta dos Direitos do Homem, e porquê não existir a Carta dos Deveres do
Homem? Seria importante para que talvez a sociedade fosse mais igualitária e
mais justa. Por certo, a sociedade evoluiria de uma forma sã, e embora não
deixe de ser imperfeita, os maus políticos desapareciam, os maus programas
televisivos desapareciam, e talvez houvesse espaço para mais dignidade e mais
verdade naquilo que se promete, naquilo que se diz. Os actos e as palavras
voltariam a ter honra!
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