Se
Gualdim Pais é carne, ferro, território e cidade, Iria é espírito, devoção, povo
e nação.
É
esta diferença que faz a diferença entre o 1 de março e o 20 de outubro.
Se
em outubro, em pleno outono e a caminho do inverno se faz sentir o calor de uma
celebração que é identitária de uma comunidade, já em março, em finais de
inverno e a caminhar para a primavera, o que se sente é frio celebracional,
pesem embora muitos e vários esforços para criar ambiente.
O
problema do 1 de março é o seu cariz pouco popular, pois criado por decreto há
algumas décadas, alterando o feriado municipal do dia da Padroeira para o dia
do Fundador.
Em
outubro há feira, pessoas e procissão; em março há desfile, instituição e
entidades singulares ou colectivas.
Será
outubro mais importante que março?
Não
creio. Nem subscrevo.
Porque
radicalmente diferentes.
São
dois patrimónios irrepetíveis e, curiosamente, oponíveis na sua essência:
outubro, de Iria, santa simbólica (Irene e Paz); março, de Gualdim, fero,
guardião e comandante de guerra.
Porque
os extremos se atraem e complementam.
Todavia,
março é também Herança.
De
um território que se consolidou, de uma economia que cresceu e se transformou
ao longo dos séculos, de ordens religioso-militares que aqui aquartelavam e
mandavam noutros territórios, de povos que se sucederam, de povoação com
estatuto real, de prioridado com categoria de diocese mundial, de crescimento
urbano, de inovação arquitectónica e artística, de personalidades que, na sua
singularidade, deram força ao colectivo.
Portanto,
ignorando as questões iniciais do território e da nação, de março e outubro,
respectivamente, o que interessa mesmo, em cada primeiro de março é saber se
somos inequívocos herdeiros daqueles que nos antecederam e se estamos à altura
da Herança legada.
Ou
se a malbaratamos…
Carlos Trincão
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