APRESENTAÇÃO

“A TERRA DE QUE A GENTE GOSTA” é expressão que nos agrada. É sentida e é profunda, e é adotada como a ideia força de “TomarOpinião”.

Pretendemos oferecer críticas construtivas e diversificadas sobre os valores, as coisas e as atualidades da nossa terra, e não só. Pretendemos criar um elemento despertador de consciências e de iniciativas de cidadania, e constituir uma referência na abordagem descomprometida desses valores, dessas coisas e dessas atualidades.

Queremos, portanto, estimular o debate, de temas e de ideias, porque acreditamos que dele podem resultar dinâmicas de cidadania, que alicercem mudanças que por certo todos aspiramos.

“TomarOpinião” será um blogue de artigos de opinião e um espaço de expressão livre e responsável, diversificada e ampla.

tomaropiniao@gmail.com


domingo, 31 de julho de 2016

A ARTE DE BEM RECEBER

  Mário Cobra

Em tempo de calor, turismo em frenesim, a autarquia tomarense muito se esforça por receber os visitantes de forma galharda mas uns tantos residentes parecem não compreender. Dever ser da brasa que até assa canas (há sacanas).
Graças as aspersores dos jardins dirigidos para a via pública, os visitantes são presenteados com um banho absolutamente gratuito. Faltará apenas o aviso aos incautos “Venham visitar Tomar trajando calção de banho”. 
Outra motivação será o executivo, com base em estratégias de executivos anteriores, poder receber os visitantes em parque de estacionamento subterrâneo cuja construção terá sido a mais cara do mundo. Isso sim, é obra. Nas traseiras dos Paços do Concelho.   
Nos próximos fins-de-semana alargados, os visitantes que pernoitem no hotel serão presenteados com música popular motivadora de uma noite romântica. Imaginamos um casal na cama ardente embalado pela música de Quim Barreiros “Eu gosto de mamar nas tetas da cabritinha”, ou “Vamos brindar, vamos beber, quem faz 69 nunca mais vai esquecer”.
Há dias, domingo quente, visitantes deglutindo o almoço, encostados à espécie de rede que circunda o encerrado parque infantil na zona desportiva. Pessoal sentado nas geleiras. Inconveniente de qualquer geleira aquecer com o bafo do rabo. Outrora existiam ali mesas onde os excursionistas podiam embutir o pitéu. Ora, por falta de mesas, o executivo podia impedir que os visitantes carregados de farnéis ali comessem. Nada disso, no sentido de bem receber, a autarquia permite que os excursionistas comam no chão, de borla. Claro que o povo podia abancar à sombra, na relva, mas desconhecem que só o podem fazer caso se identifiquem como uma excursão templária. Só as festas templárias podem espezinhar a relva porque são a marca turística deste executivo. Não se sabe onde os arautos foram descobrir que D. Gualdim Pais era paladino de festas e romarias mas lá terão os seus investigadores.  
Por outro lado, se os Templários vestem capa, este executivo entendeu estrategicamente vestir a cidade de capim. Assim se pode ler no inconformado “Tomar a dinteira3”. 
- Na outrora bem cuidada Várzea Grande, frente ao Palácio da Justiça e no caminho de quem chega a Tomar pelos transportes públicos, temos o padrão, cuja base está tipo terreno baldio abandonado. (Conforme foto de “Tomar a dianteira)





sexta-feira, 29 de julho de 2016

A PENA DE MORTE

  Carlos Carvalheiro

Eu sei que este blog é para opinar sobre de coisas de Tomar, tendo cada um dos bloguistas aceitado escrever uma vez por mês sobre um tema comum, mas, como o tema de julho é o “crime”, puxa-me mais para escrever a pensar na Europa do que no que se passa debaixo das arcadas da Câmara fora das horas de expediente.

E isto a propósito das recentes declarações do presidente da Turquia, que quer reimplantar a pena de morte no seu país. Ouvi-o na televisão a justificar: “Os Estados Unidos não têm pena de morte? Tal como a Rússia? Tal como a China? Porque não poderá a Turquia tê-la também?”

A argumentação não podia ser mais linear. 

E, no entanto, uma das coisas que distingue os Valores da Europa dos de outros países civilizados (países que põem o primado na Lei e que diferenciam Estado e Igreja) é que, primeiro, foram instaurados, enquanto Valores, o tríptico de Liberdade - Igualdade - Fraternidade, resultantes da Revolução Francesa (séc. XVIII); depois foi abolida a pena de morte (séc. XIX), abolição essa de que Portugal se pode orgulhar de ter sido um dos pioneiros; e, finalmente, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos do Homem (séc. XX), que começa, como a maior parte das pessoas sabe, com a célebre «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos» e que continua com a menos conhecida mas não menos importante «Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros com espírito de fraternidade», declaração essa que, entre outras coisas, ilegaliza o delito de opinião. 

Ora, tendo o presidente da Turquia, na sequência de um putativo golpe de Estado, no mesmo dia e à mesma hora, mandado prender nove mil presumíveis opositores (faz lembrar a prisão de todos os templários de França, na sexta feira 13 de outubro de 1307, ordenada, meses antes, pelo rei Filipe, o Belo), entre juízes, médicos, militares, jornalistas, professores e etc., pelo “delito” de serem opositores, ou seja, por delito de opinião, quer, agora, reimplantar a pena de morte na Turquia, com a intenção clara de exterminar a oposição ao regime sem ser acusado de crime contra a Humanidade.

Talvez se safe deste crime, mas cometeu os dois primeiros: prende por delito de opinião e quer reimplantar a pena de morte. Assim tornará impossível a integração da Turquia na Europa comunitária. 

Ainda bem.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

ALÉM-FRONTEIRAS / AQUÉM-FRONTEIRAS

Carlos Trincão

Tive que intervalar largas semanas, que o tempo, ao contrário do que pensamos, não dá para tudo. Até porque a gente, com a velocidade dos dias não dá pelo passar da vida…
Ainda atrasado no tema do mês passado, transformo-o agora no post livre. O crime fica para outro dia, ainda em Julho.
Frenesim era em Tomar, nos dias seguintes ao 25 de Abril: a sofreguidão por notícias era tanta que as pessoas iam à estação dos comboios esperar os jornais. Os revendedores que ali iam buscá-los, aí logo os vendiam! Improvisavam a banca naquele balcão largo e baixo que separava a área dos passageiros da área de despachos e preparação de carga. Largavam os maços atados, desatavam-nos à navalhada e tinham que ter cuidado com algum cliente mais impaciente que se apressasse a pegar no jornal e se esquecesse de pagar.
Frenesim é agora por essa Europa fora, atentado atrás de atentado. Frenesim é agora na Turquia, golpe atrás de golpe. O problema, para variar, está nos homens, que aqui nem me atrevo a escrever com agá grande.
            O que me chateia é que o pessoal anda todo às turras por causa de nada a não ser esta ideia maluca de querer mandar nos outros à força. E depois, malham uns nos outros em nome do mesmo Pai: Alá, Jeová e Deus.
            Vai para largos anos, quando estive pela primeira vez na Turquia, se houve locais onde encontrei Tolerância com muitos tês maiúsculos foi, precisamente, nas mesquitas. Aliás, as notas de viagem turcas eram invariavelmente escritas nas mesquitas, pernas cruzadas e rabo no chão. O silêncio, o recolhimento e a frescura davam o tom ideal.
Agora, as coisas talvez comecem a ser bem diferentes. Não sei.
Nessa altura, e penso que ainda será, Kornurlar era uma aldeia perdida que nem vem no mapa. Calhava ficar mesmo à borda de um caravanserai da antiga Rota da Seda, entre Bursa e Iznic, a velha Niceia.
            Só isso já dava que pensar: Niceia, Concílio de Niceia quando o Cristianismo tinha dentes de leite, Credo oficial da Igreja… cuja igreja onde tudo aconteceu se visita agora num país de religião islâmica.
            Em Kornurlar, a vida seguia o ritmo não frenético da transumância, razão para que os amigos que ali fiz me dissessem que não precisavam de grandes casas. E realmente…
            As casas são o que são e que eu vi, mas a Mesquita era o seu ai-jesus, passo a expressão: simples, mas um mimo! Porém, o curioso é uma das pedras de uma das paredes exteriores de suporte com uma cruz cristã gravada que me apontavam com orgulho e sorrisos.
            Então porque é que a gente complica as coisas?
          Eu sei que houve a Guerra Santa; mas também houve Cruzadas, algumas tipo-vá-para-fora-cá-dentro, como aquela contra os Albigences, já para não falar da Inquisição ou do saque de Constantinopla. De modo que não vale a pena ir por aí, pois todos têm culpa no cartório. Nem vale a pena falar de minorias fundamentalistas, porque fundamentalistas também são muitas maiorias, islâmicas, judaicas ou cristãs. Ou políticas, mas isso é outra história. Ou não?
            Caramba, porque é que as coisas não são assim tão simples como naquela parede de Kornurlar?


domingo, 17 de julho de 2016

O "CRIME" DA CHINFRINEIRA

Mário Cobra

Há crimes globais, assassinatos. Há dias a esta parte os noticiários televisivos não falam de outra coisa. Até já declinaram as feéricas festas relativas à vitória da selecção nacional.
Há “crimes” nacionais, sejam políticos, sejam financeiros. Seja a situação das instituições bancárias, seja o “festival da sanção europeia ”. Pois, estas questões não cabem numa simples e ligeira crónica. Mais ainda por causa do calor.
Há “crimes” regionais e locais. Exemplo de “crime” regional, quem conhece a situação do caos na urgência do Hospital de Abrantes deve qualificar de atentado à saúde dos cidadãos enfiarem naquela confusão mais uma urgência do serviço de cardiologia. Este será um “crime” pouco saudável para quantos necessitem de recorrer à urgência do Hospital de Abrantes, onde o comum do cidadão acaba por cair, penando tormentas.
“Crime” local de lesa turismo. Tanto quanto foi tornado público, face às reclamações, em especial da gerência do Hotel dos Templários, porque no ano passado a prolongada chinfrineira da festa da cerveja terá atingido foros de fazer perder a paciência a um surdo, o executivo assumiu que este ano o arraial se realizava no mercado municipal, evitando assim molestar os clientes do hotel. Imagine-se quantos decidam vir passar um fim-de-semana a Tomar, no hotel junto ao rio, paisagem idílica (assim seria se fosse) jardins floridos (escrevemos floridos embora soe a vernáculo semelhante). Pois, imagine-se os turistas confrontos com um arraial à cabeceira, tortuosa marca de receber os visitantes. Tanto quanto nos apercebemos, não foi tornada pública a razão do executivo ter retrocedido na intenção assumida, mas deduzimos que os organizadores da festa se tenham recusado a realizar o evento no espaço do mercado. Daí o executivo tenha optado pela solução “Haja festa. Se lixem os turistas. O povinho quer é festas e mais festinhas”. Em nossa modesta opinião, o local certo da realização da festa seria na Praça da República, durante toda a semana, dia e noite, ficando assim o executivo a saber quanto custa gramar o frete.
“Crime” de confundir o género humano com o Manuel Germano será a proposta da câmara ao ministro da Cultura no sentido de se engendrar uma gestão partilhada no caso do Convento de Cristo. Ou seja, um executivo que não consegue sequer resolver questões bem mais simples como seja a limpeza da cidade e do concelho, entende-se capaz de co-gerir o Convento de Cristo. Salvo se a proposta do executivo for no sentido do Ministério assegurar as despesas correntes e os investimentos cabendo à câmara municipal arrecadar as receitas das entradas. Assim vai fazer o executivo na caça à verba ao propor taxar o estacionamento em quase toda a cidade, pelo informado sem atender sequer a uma prática comum de permitir estacionamento aos moradores.
Em termo de receitas à má fila, propomos, por exemplo, a câmara iniciar a cobrança de bilhete de acesso a quem recorrer aos seus serviço, a quem quiser ir ao mercado municipal, a quem quiser entrar nos cemitérios, incluindo os que vão no caixão.
Mais havendo para dizer, fica a sugestão de que os órgãos de comunicação, blogues e quejandos abram uma secção com o título “Crimes urbanos, mazelas rurais”.
Que não lhes doa o teclado.
Outra sugestão, que a câmara promova, em Agosto, a grande festa dos tomates, coisa que por cá em termos autárquicos vai faltando cada vez mais.
Já agora, muita intenção dita popular pode induzir determinado tipo de cheirinho a prevaricação. Caso deste respigo de notícia - "O pátio das cantigas" e "O leão da Estrela" somaram mais de 805 mil espectadores e cerca de quatro milhões de euros. Exemplo de como o mau gosto pode ser compensado, assim dizem os críticos, os maus da fita.
Há sempre também uns maus da festa, ditos politicamente incorrectos, a lamentarem-se das inquinadas repercussões.


sexta-feira, 1 de julho de 2016

MAS QUE RAIO DE TEMA ESCOLHERAM PARA ESTE MÊS - "FRENESIM"

Rui Ferreira

Assim, de repente, este termo de origem grega suscita-me a imagem de um crocodilo, dentro de água, às voltas com uma presa dilacerada na boca ou então milhares de formigas sobre um cadáver... É algo assim, irracional, primitivo, visceral, cru, enfim... animal.
Não deve, por isso, ser estranho que utilizemos este substantivo para aludir a estados anómalos, tanto dos indivíduos como da sociedade. De facto, uma das suas conotações mais comuns é a impaciência. Essa condição afecta-nos, a todos, de um modo atroz. A gestão das expectativas de cada individuo depende de milhares de factores, tanto endógenos como exógenos. Um deles, e talvez o mais importante, é o do prazer ou da auto-satisfação.
O prazer, a satisfação e mesmo a felicidade (consagrada, como direito alienável, na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América) são hoje considerados objectivos legítimos e transversais na sociedade. O sucesso, o poder e o bem estar são chavões publicitários e modelos de vida aos quais, aparentemente, não existe alternativa. Talvez por isso o dever, o serviço e a solidariedade andem pelas "ruas da amargura". As pessoas não pensam, ... reagem. Não procuram, ... é-lhes facultado. Não opinam, ... escolhem de uma lista pré-preparada. Gritam, ... não comunicam. Competem, ... não jogam.
Em 1977, na sua obra "O macroscópio: para uma visão global", o biólogo molecular Joel de Rosnay, escrevia o seguinte:
"Numa região do hipotálamo existem feixes de fibras nervosas que parecem desempenhar um papel essencial no sistema de recompensa do organismo. Se se estimular por meio de descargas eléctricas numa cobaia um destes feixes, o animal desata a comer com voracidade. Em presença de animais do sexo oposto copulará com frenesim. Se lhe deixarmos a possibilidade de ele próprio estimular este centro de prazer, ele próprio entregar-se-á, até à exaustão, a esta actividade narcisista levando a frequência dos estímulos até 8.000 por dia!"
Este cientista e futurista especulava sobre o facto de um ser vivo poder, directamente, estimular aquela região do cérebro (o hipotálamo), considerada a "parte primitiva do nosso sistema nervoso".
Creio que a sociedade humana desenvolveu essa faculdade. A humanidade, cujo desígnio segundo muitos, seriam as estrelas, encontra-se ocupada a tentar estimular o seu "cérebro primitivo", num frenesim de irracionalidade ao qual, nem o vislumbre da morte, parece pôr termo.