APRESENTAÇÃO

“A TERRA DE QUE A GENTE GOSTA” é expressão que nos agrada. É sentida e é profunda, e é adotada como a ideia força de “TomarOpinião”.

Pretendemos oferecer críticas construtivas e diversificadas sobre os valores, as coisas e as atualidades da nossa terra, e não só. Pretendemos criar um elemento despertador de consciências e de iniciativas de cidadania, e constituir uma referência na abordagem descomprometida desses valores, dessas coisas e dessas atualidades.

Queremos, portanto, estimular o debate, de temas e de ideias, porque acreditamos que dele podem resultar dinâmicas de cidadania, que alicercem mudanças que por certo todos aspiramos.

“TomarOpinião” será um blogue de artigos de opinião e um espaço de expressão livre e responsável, diversificada e ampla.

tomaropiniao@gmail.com


quarta-feira, 30 de março de 2016

TOMAR É MESMO UMA CIDADE CULTURAL?

Carlos Carvalheiro 

 Há mais de dez anos (2003 Set 27) escrevi este texto para ser lido na Rádio Hertz. Pergunto-me se será útil relembrar-me dele…
 Tomar é mesmo uma cidade cultural?
 Tem sido cada vez mais veiculado que Tomar é uma cidade cultural. Eu próprio tenho ajudado a divulgar esse conceito. Mas aqui para nós, que ninguém nos ouve, corresponderá isso a uma realidade ou a um desejo?
 Há uns anos (e falo de 20 anos), quando começou a haver uma variada ativação de manifestações culturais em Tomar, era audível na cidade a opinião de que a cultura estava ligada aos comunistas e que, portanto, os verdadeiros motivos de quem desenvolvia actividade cultural, eram outros e naturalmente mais sombrios. O tempo demonstrou que essa opinião estava errada: quem se dedicava e dedica às actividades culturais é bem pior e mais persistente que essa rapaziada crente que um muro como o de Berlim é um garante de liberdade.
 Porque, contrariamente a estes, que pretendiam uma organização social centralizada no Estado, moralista e moralizadora do comportamento do cidadão, enquanto forma de regular e regulamentar a sociedade, os activistas culturais têm conseguido fazer mover o poder local, sem dúvida a reboque, mas a mover-se, no sentido de tornar Tomar numa cidade cultural, ou seja, diversa, ecuménica e potenciadora da melhoria da qualidade da vida, material e espiritual.
Claro que isto, dito assim, poderá provocar o comentário de que presunção e água benta cada um toma a que quer. E, no entanto, esses que se posicionavam contra a actividade cultural, e alguns há ainda vivos e vivaços, já não se atrevem a dizer em voz alta ou a escrever por outras palavras que quem anda nisto da Cultura ou é comunista ou paneleiro ou puta ou drogado ou tudo junto.
 Hoje em dia fica bem falar bem da Cultura. E ainda bem.
 Só que os senhores que mandam nisto, e estou a falar dos que foram eleitos, levam anos de atraso neste assunto da Cultura. Já perceberam que a questão cultural é incontornável em Tomar. Mas insistem em não se envolveram paritariamente com quem anda no terreno e olham para a Cultura como uma ferramenta ou um trampolim ou um meio para o exercício do poder. Ainda falta o seu tempo até perceberem que a Cultura é um fim e é o Poder que é uma ferramenta ou um trampolim ou um meio para o atingir.

 E então, Tomar cidade cultural é uma realidade ou um desejo? As duas coisas. Mas é isso que é bonito nas utopias.

terça-feira, 29 de março de 2016

PALAVRA DE HONRA

 António Pedro Costa 

 Quem já não ouviu a expressão “palavra de honra”? Por certo todos nós já ouvimos, já o dissemos. E agora pergunto a quem lê estas palavras, há quanto tempo não ouve tal expressão? Curioso pormenor, curiosa expressão que caiu em desuso, que por um lado causa estranheza, por outro, seguiu talvez um caminho natural na sociedade em que vivemos.
  Se olharmos para o aspecto sociológico da questão, o descostume da expressão “ palavra de honra” demonstra muitos fenómenos a vários níveis, mas principalmente ao nível sociológico. Vivendo tempos conturbados, onde temos um país com uma economia precária, situações financeiras das famílias e das empresas difíceis, é natural que provoque uma crise em vários níveis, e o nível dos valores é por demais afectado.
  Temos vários exemplos na sociedade portuguesa, onde a crise de valores é latente. Basta ligar o televisor das nossas casas, e ver alguns programas que vão para o ar e temos a prova como a nossa sociedade vive, e ao que parece gosta de viver. Tudo aquilo que assistimos através dos ecrãns televisivos é por demais evidente. Não é preciso referir o nome do programa, mas naquilo que consiste certo saberão do que falo. Um programa onde tem como objectivos testar pessoas numa casa, com jogos de intrigas de mentiras tudo por um objectivo, dar entretenimento (?). De referir que é este tipo de programa que dá audiência. Não posso criticar quem vê e gosta deste tipo de programas, mas posso observar que muita coisa corre mal na nossa sociedade quando o número de inscrições de um reality show é superior ao número de inscritos para o ensino superior. 
  No espectro político apresentam-se algumas semelhanças. A classe política está completamente fragilizada, as pessoas estão cada vez mais “desligadas” do debate político e dos políticos, e em boa verdade porque não há palavra…não há honra nas palavras, e não se cumpre! Podemos assim dizer que a classe política está um verdadeiro reality show. Os programas eleitorais mal estruturados e falsas promessas, as promessas feitas que dão a origem a promessas falhadas, e muito importante, os discursos onde se usam as palavras em tom convincente, mas sem HONRA, sem respeito por quem acredita nos discursos convincentes.
  A palavra de honra tem um simbolismo forte. Representa para quem diz, uma forma de transparência. Fazendo uma análise aos “nossos” mundos, quantas palavras sem honra já ouviram? Ou há quanto tempo não ouvimos palavras com honra? São tudo perguntas de reflexão. Toda a veracidade que usamos nas palavras, não deve ter só, apenas a palavra de honra mas todo o acto e prática em si…com Honra!
  Creio que precisamos de numa regeneração dos valores da sociedade. É também tempo de não reclamar só direitos, mas também exigir os deveres. Existe a Carta dos Direitos do Homem, e porquê não existir a Carta dos Deveres do Homem? Seria importante para que talvez a sociedade fosse mais igualitária e mais justa. Por certo, a sociedade evoluiria de uma forma sã, e embora não deixe de ser imperfeita, os maus políticos desapareciam, os maus programas televisivos desapareciam, e talvez houvesse espaço para mais dignidade e mais verdade naquilo que se promete, naquilo que se diz. Os actos e as palavras voltariam a ter honra!

quarta-feira, 23 de março de 2016

TRAGÉDIA EM 3 ATOS

António Lourenço dos Santos

Interrogamo-nos com frequência acerca das causas do declínio económico e social de Tomar.
São produzidas muitas opiniões e existem muitos escritos publicados para responder a esta questão que aflige. Mas afinal podemos poupar-nos à leitura desses artigos. Temos demonstrações ao vivo.
Nestes últimos tempos, assistimos a 3 dessas demonstrações, que ilustram os absurdos que enfraquecem Tomar desde há décadas.

Ato 1. A entrevista da Presidente da Câmara a um Jornal local. Fomos contemplados com um conjunto de lugares comuns, de algumas promessas estéreis que cavalgam o anuncio de uma espécie de obras de regime, e da confissão de uma pretensão intima, a de existir um projeto para Tomar. Qual, não se sabe…mas talvez seja esse o símbolo vazio e descolorido do mandato deste executivo camarário. Tal como de outros, aliás, porque o mal não é (só) de agora. Fica para memoria a incapacidade de apresentar um desígnio condutor para o desenvolvimento do Concelho, e de o valorizar com ações e em atos concretos.     

Ato 2. A farsa do PEDU, que pode ser escolhida como símbolo da capacidade desta Câmara. Não se compreende que a Câmara nos queira entreter com uma designação pomposa (“Plano Estratégico”) para enquadrar meia dúzia de obras sem coerência entre elas. Na realidade está a desperdiçar uma oportunidade única de usar o programa 2020 para se dotar de um verdadeiro Plano que exibisse os eixos e as ações de uma estratégia para nortear o desenvolvimento na próxima década. Uma estratégia para atrair investimentos geradores de empregos, de modo a criar condições de fixação de população em Tomar. Uma estratégia que nos permitisse recuperar alguma esperança. Certo é que a Camara de Tomar arrisca-se a ser uma das poucas que não se sabe o que querem para o desenvolvimento do Município. Tanto pior para os Tomarenses, que continuam a assistir ao declínio da sua cidade…apesar desse PEDU.        
   

Ato 3. A desvalorização sistemática da Oposição, como se para lá das fronteiras desta coligação apenas existisse um vazio de ideias e de pessoas.  E como se a Coligação soubesse o que quer fazer para vencer os problemas principais que existem. Tomar está em declínio, visível no encerramento de Empresas, na perca de Empregos, e no êxodo de população. Não se entende que algumas forças políticas não se queiram ouvir, e não troquem ideias nem discutam opiniões, para vencer esse declínio. Continua a prevalecer a partidarite, em assuntos que têm a ver com o nosso futuro coletivo, e com o futuro das gerações mais jovens.        

terça-feira, 15 de março de 2016

PARA ONDE VAMOS?

António Pedro Costa

Portugal iniciou o processo de divisão administrativa do seu território em 1835. Foram criados 18 distritos, que ao longo dos tempos sofreram alterações. A mais notória foi a extinção do Distrito de Lamego, que deu lugar ao Distrito de Viseu. Desde então, apenas foram extintos os governadores civis, situação levada a cabo pelo anterior governo.
Nos tempos que correm, é perfeitamente discutível e até oportuno discutir as regiões administrativas do país. Como defensor da regionalização, não posso deixar de pensar que a perspetiva geográfica de Tomar, bem como os seus interesses económicos e sociais, devem ser repensados.  Os distritos foram limitados e ordenados consoante as condicionantes da época em que foram criados. As consequências dessas condicionantes têm sido superadas ao longo dos tempos através das comunidades intermunicipais (antigas associações de municípios). Estas promovem um núcleo de municípios, identificados e agrupados por interesses comuns e vantagens económicas, culturais e sociais.
O caso de Tomar, cidade que pertence a uma Comunidade Municipal do Médio Tejo e da qual também fazem parte concelhos do distrito de Castelo Branco (Vila de Rei e Sertã), insere-se num contexto que deve ser muito bem reanalisado.
            Atualmente, graças às novas vias de comunicação, conseguimos estar em Coimbra após 45 minutos de viagem (mesmo pagando caro as portagens) ou em Leiria em mais ou menos o mesmo tempo
Com as novas vias de comunicação, estar em Coimbra após 45 minutos de viagem (mesmo pagando caro as portagens) ou em Leiria em mais ou menos o mesmo tempo, é uma realidade. Este evidência pode ajudar-nos a questionar se Tomar é de facto uma terra ribatejana nos tempos que correm ou não.
A vegetação do seu território, onde o pinhal e o eucaliptal são as espécies predominantes nas zonas rurais do concelho, talvez comprove a identificação da região de Tomar com a parte mais central do país do que com a parte mais para sul/sudoeste (campo semeado e lezíria).   
            Os interesses económicos do distrito de Santarém em pouco se identificam com os do Município de Tomar. Como já referi, hoje em dia, qualquer cidadão tomarense tem facilidade em deslocar-se para Leiria ou Coimbra. Os serviços prestados nestas cidades são muito mais úteis ao cidadão comum tomarense do que propriamente os prestados em Santarém. A título de exemplo, a saúde em  Coimbra.
Quiçá, estas zonas de afluência sejam mais pertinentes e possa existir um interesse económico comum entre Leiria e Coimbra. Isto leva a pensar na zona industrial. Repensar tudo não será o ideal, mas pensar em novos polos industriais nos limites oeste e norte do concelho poderia ser uma forma de atrair investimento e fazer crescer economicamente a região.
A discussão sobre todos estes fatores é importante e é também certo que este tipo de questões terá muita mais importância se existir uma vontade séria em discutir a regionalização. Esperemos que a teoria da descentralização defendida pelo primeiro-ministro António Costa seja debatida no parlamento. O país necessita de consensos nas decisões administrativas e é necessário que os partidos tradicionalmente do arco do poder se aproximem e estabeleçam políticas bem estruturadas quanto à administração do país, possibilitando uma descentralização equilibrada.   
Todos nós podemos refletir e antecipar os resultados da descentralização. Fazer um debate sério e pensar no que, de facto, é o melhor para o concelho de Tomar será um passo importante para um município mais próspero e com crescimento económico. As crises também são oportunidades e, em tempos, Tomar teve a sua influência na região. Repensar como se reganha esta importância é uma responsabilidade que cabe a todos os quadros políticos locais, mas também à sociedade tomarense. O que queremos? 

domingo, 13 de março de 2016

TABULEIROS: PATRIMÓNIO MUNDIAL?

Carlos Trincão

O suplemento Fugas do diário Público de hoje, sábado, dia 11, inclui uma reportagem sobre Valência e as suas “fiestas”anuais: as Fallas de Valência, referindo que as mesmas são festa de Interesse Turístico Internacional e candidatas a Património da Humanidade da UNESCO.
Conheço relativamente bem as Fallas de Valência e considero-as, de facto, merecedoras da distinção universal tal o empenho popular, a organização por bairros, a eleição da “Fallera-Mayor” e o relevo que lhe é dado na cidade desde o momento da sua eleição até ao fim de festa, todo o trabalho em torno dos espantosos monumentos em “papel-carton” que ardem na noite de 18 para 19 de março e que desaguou numa próspera indústria com criativos a trabalharem nas propostas de um ano para o seguinte, as cinco intermináveis procissões simultâneas da “Ofrenda” à Virgem, a multidão de visitantes que entopem os acessos e esgotam os comboios, a estrondosa abertura que parece não acabar e faz tremer o chão com os foguetes e demais panóplia pirotécnica diurna, ao meio-dia em ponto, as “carpas” e as permanentes refeições comunitárias de bairro. E tudo o mais que uma festa tem e não é possível descrever.
A consideração das festas populares como Património Mundial Imaterial da UNESCO só foi possível depois de um processo levado a cabo por várias cidades da bacia euro-mediterrânica, entre as quais Tomar a convite da Representação da UNESCO em Portugal, denominado “Les Fêtes du Soleil”, com supervisão da própria UNESCO, do qual resultou, entre outros produtos, a denominada “Carta das Festas”, na prática a solicitação fundamentada à UNESCO do alargamento do conceito de Património Mundial Imaterial às festas populares.
Este processo decorreu entre 1986, lançado na Presidência de Pedro Marques, e desenvolvido e concluído em 2001, na Presidência de António Paiva.
Depois disso, não houve Presidente da Câmara que não afirmasse que se estava já a trabalhar no sentido da candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Mundial Imaterial, pois que Tomar estivera naquele processo precisamente por causa da sua Festa Grande.
Há relativamente pouco tempo, a Presidente Anabela Freitas voltou a tocar no assunto dizendo qualquer coisa como isto: vamos tratar do processo da Candidatura a Património Mundial, mas antes teremos que conseguir a sua consideração como de importância nacional.
Não estou certamente a ser fiel às suas declarações, pois escrevo de memória. Mas o espírito da declaração é este.
Entretanto o tempo passa. E tenho para mim que cada dia que passa é mais um obstáculo à concretização do que dizem que se pretendem. Sim, porque nesta altura já não tenho certeza sequer se há essa vontade assumida!

Enfim!

terça-feira, 8 de março de 2016

A PRESIDENTE DE CÂMARA ASSUME QUE NÃO VAI CUMPRIR AS SUAS MAIS IMPORTANTES PROMESSAS ELEITORAIS

 Presidente da câmara de Tomar assume que não vai cumprir as suas mais importantes promessas eleitorais


               Anterior autodidacta da informação semanal, durante anos tentei reproduzir as decorrências e deliberações das reuniões do executivo da câmara municipal no “Cidade de Tomar”, a quem reconheço o beneplácito de me ter acolhido, assim como fui diletante dos prazeres da escrita irónica. Sou agora debutante da partilha dos blogues e valha-me a senhora do desabafo, se não fico perplexo, mesmo depauperado, porque nenhum dos sites ligados aos órgãos de informação local, assim como os blogues de referência, destacam a relevante informação que o “Mirante” descreve, 7 de Março:
               “Não vai haver financiamento comunitário para construir o tão falado parque nómada em Tomar, uma das maiores promessas da presidente Anabela Freitas quando se candidatou à presidência do município. Também não haverá dinheiro da União Europeia para avançar com a requalificação do bairro de barracas do Flecheiro nem com o complexo da Levada.
               A principal aposta da coligação PS/CDU que gere a Câmara de Tomar para o ano de 2016, o reforço das políticas sociais, nomeadamente ao nível da habitação social, também não vai avançar por não ter enquadramento comunitário. A presidente do município, Anabela Freitas (PS), explicou em reunião de câmara que foi informada de que não vai haver fundos comunitários para esses projectos.
               Com este entrave, Anabela Freitas vê vários dos seus projectos e promessas ficarem em banho-maria. O objectivo da construção do parque nómada era instalar nesse complexo a comunidade cigana, retirando-a do Flecheiro, requalificando posteriormente essa zona, que é uma das principais entradas da cidade de Tomar”.
               Provavelmente estou mesmo desactualizado, ou estou a ver mal, quiçá a informação do “Mirante” não é relevante, salvo se os jornais locais reservarem esta derrocada estratégica do executivo da câmara municipal para manchetes das próximas edições, títulos do género “Presidente da câmara de Tomar assume que não vai cumprir as suas mais importantes promessas eleitorais”.


Mário Cobra

segunda-feira, 7 de março de 2016

ASSIM VÃO AS COISAS


            Museu de peixe frito

            A dona câmara lá vai anunciando um novo museu para o complexo da Levada, muito provavelmente sem saber o que lá vai expor susceptível de captar visitantes de todo o país. Certamente a autarquia não vai afectar ou admitir uma dúzia de funcionários para receber tantos visitantes como o pomposo dito Núcleo de Arte Contemporânea, ou seja, meia dúzia de gatos-pingados. Assim sendo, o que irá ser exposto no novo museu da Levada que possa atrair milhares de visitantes: Actualidade levada da breca? Intrigas autárquicas? Enchidos? Repolhos? Palestras? Vistas para o rio? Passarinhos?
            Em nossa opinião, a maneira mais rendível de ocupar tão aprazível espaço seria um complexo de petiscos, em especial peixe frito, aproveitando as sinergias das espécies que passam mesmo ali, na Levada, à mão de se apanhar.  
            Já agora, repescando uma notícia no “Cidade de Tomar”, nos idos de 2008, leia-se O presidente da câmara apresentou ao executivo a proposta de criação de um Museu do Brinquedo, sendo aceite a doação das colecções de Manuel da Conceição Baptista e Ilda Magina da Conceição. Segundo informação do presidente, o Museu destina-se a ser instalado no piso inferior do Convento de S. Francisco, integrando um conjunto com o Museu dos Fósforos e a Azulejaria”.
            Será que este Museu do Brinquedo, anunciado em 2008, vai ser inaugurado no mesmo dia do Museu da Levada, com um opíparo banquete à base de peixe frito?  

            Hospital sem doentes internados 

            Dizem as notícias que já foram recolhidas mais de sete mil assinaturas pelo regresso da medicina interna ao Hospital de Tomar. Se sem medicina interna não há internamentos, então, assim, como está, um hospital não é apenas um centro de saúde complementado com algumas valências, incluindo a emblemática e necessária psiquiatria?
            Requerer medicina interna num hospital não é como exigir que uma biblioteca tenha livros ou uma padaria tenha pão, ou que a saúde mental tenha juízo?
            Sabe-se quanto este pesadelo de descontrolo hospitalar resulta da anterior estapafúrdia politiquice de se terem construído três unidades hospitalares tão próximas, Abrantes, Torres Novas e Tomar, como se fossem capelinhas de disputas intermunicipais. Dessa indigestão tripartida do centro Hospitalar tem resultado a dispersão de meios, a barafunda de serviços, as controvérsias de transportes, a suspeições de favoritismo em relação ao Hospital de Abrantes, as queixas de que a urgência cirúrgica neste Hospital de Abrantes funciona em permanente caos, doentes amontoados pelos corredores enquanto no Hospital de Tomar luxam as camas vazias. Há tempos garantia em privado um ex-responsável dos serviços de saúde que em qualquer circunstância seria mais vantajoso construir um hospital central, digamos na zona do Entroncamento, ficando os três existentes como unidades de cuidados continuados e paliativos. Argumentava esse ex-responsável que, em termos relativos, o custo de um novo edifício será irrelevante quando comparado com os custos funcionais acrescidos das três unidades hospitalares. Se adaptarmos um ditado popular podemos dizer “Centro Hospitalar que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”. Pergunte-se agora quem foram os responsáveis pela irresponsável carta hospital que decidiu construir três unidades hospitalares tão próximas e a resposta é óbvia - neste relaxado país nunca há culpas políticas. Sempre foi assumida a institucionalização de que a culpa política morre solteira. Sabe-se que não quer mesmo outra vidinha do que morrer solteira. Ou então assumir o desculpável “Todos fomos culpados por cada um querer o seu hospitalito concelhio”, assumindo a hipótese de ainda valer a pena construir um único hospital comum.      

            Onde anda a cheta?
           
            Segundo informação do ex-secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, prestada no decorrer do congresso daquela Confederação, o dinheiro da União Europeia não chega às empresas porque fica pelo caminho. Sabe-se que um caminho sem fundo ou a fundo perdido.
            Será por isso que nunca chegou a Tomar? Será por isso que nunca foram criadas as há tempos anunciadas novas unidades hoteleiras?

            Carentes do quadro

            Segundo recente entrevista, a presidente da Cáritas local, Célia Bonet, referiu que “Há situações de pobreza que já vão na terceira geração. São casos crónicos de famílias em que a Cáritas já apoiou os avós, os pais e agora apoia os filhos."
            Deduz-se tratar-se de famílias que já entraram para o quadro, que integram o quadro dos efectivos carentes da Cáritas. Sendo assim, fica a pergunta de quando é que estas carenciadas famílias, integradas nos quadros de efectivos da Cáritas, passam à reforma?  

            Parques temáticos armados aos cágados

            Enquanto em Tomar nunca passou de fantasia eleitoral o abortado parque temático, foi agora difundida informação sobre o Parque Temático Patriótico da Rússia, um investimento na ordem dos 317 milhões de dólares para expor 500 exemplares de armas. Segundo o divulgado, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, inaugurou o que o jornal inglês The Guardian chamou de a "Disneylândia militar". O Patriot Park é um parque temático um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. No almoço, é possível comer ração militar. Ao invés de dar uma volta em uma montanha russa, as crianças podem brincar com lançadores de granada e escalar artilharia pesada.
            Falando em parques temáticos, escrevia o jornal “Público”, nos idos de 2001 “Um espaço futurista, com imagens virtuais a três dimensões e cenas de batalhas e de viagens marítimas, vai ser utilizado em Tomar para contar a História de Portugal e da Ordem dos Templários a turistas. O futuro Parque Temático dos Templários vai permitir aos visitantes entrar dentro de uma caravela, em plena tempestade, ou participar numa batalha medieval, como a tomada de uma cidade aos mouros”.

            Afinal constatou-se que este parque temático foi apenas anunciado por expediente de armado aos cágados, para ganhar uma batalha eleitoral.   

Mário Cobra

sábado, 5 de março de 2016

A CONCORRÊNCIA…

…entre Cidades e entre Regiões, é tema de atualidade.
As Cidades e as Regiões concorrem entre si em várias áreas, em especial nas que têm a ver com o desenvolvimento e o crescimento económico. Concorrência por Investimentos privados e por criação de empregos; concorrência por fundos europeus para alavancagem de investimentos públicos multiplicadores; concorrência por habitantes e visitantes…
É uma competição que tem por meta criar melhorar o bem-estar dos habitantes, fazendo o que tem que ser feito para aí chegar. Falo de atrair atividades, empresas e produção. De as atrair e fixar, criando emprego e riqueza. Fazendo viver as cidades e as regiões. Há as que ganham e há as que perdem.
As ganhadoras nessa concorrência, são as que melhor se informam e as que mais esclarecem. Informam-se para agir e para valorizar, esclarecem para atrair e receber. Sejam Serviços, sejam Industrias, seja o que for, desde que tragam consigo atividade, emprego e geração de riqueza.     
Nas perdedoras, o que resulta é o que está à vista, logo aqui em Tomar. Temos falhado etapas, não soubemos e continuamos sem saber utilizar instrumentos disponíveis, e o que resulta é estagnação ou o declínio. Não temos tido uma ideia de desenvolvimento, um polo indutor de ação e de iniciativas. O resultado está à vista. Encerramentos de empresas, êxodo de população por inexistência de empregos, e dificuldades para os que teimam em ficar. Cada vez com menos atividade produtiva, e cada vez mais com empregos públicos dependentes do debilitado orçamento do estado, o desastre mora ao lado.      
Mas é claro que não basta às cidades a informação e o esclarecimento. Para delas tirar partido, principalmente, têm que ter quem tenha visão ambiciosa e quem as comande, tem que ser conhecido o que se quer fazer, como e em que direção se podem desenvolver atividades e iniciativas, têm que ser disponibilizados instrumentos e conhecidos os parceiros. 
Neste caso, aguardemos que a nossa Câmara Municipal desperte.
Todavia, entre as Cidades, também é necessário haver cooperação. Porque existem sempre sinergias possíveis em serviços públicos, e porque existem casos e ativos cuja valorização em comum pode trazer vantagens a várias cidades em simultâneo. Vejamos, a titulo de exemplo o caso do Castelo templário e do Convento de Cristo. O seu potencial de atração e esfera de influência ultrapassa Tomar e pode beneficiar toda a região da implantação original da Ordem do Templo, de Ceras a Belmonte. A criação de rotas e percursos, de atividades e de iniciativas, em todos os Concelhos envolvidos de modo a valorizarem e a tirarem partido de um património histórico que lhes é comum, é disso singelo, mas bom exemplo.
Neste caso, aguardemos que a nossa Comunidade Intermunicipal desperte.          
Na realidade, as cidades e as regiões que têm administrações mais capazes, lideram e crescem. As outras, resignam-se e entram em decadência.


 António Lourenço dos Santos

sexta-feira, 4 de março de 2016

AS MEDALHAS QUE A DONA CÂMARA DE TOMAR DEVIA TER ATRIBUÍDO

  Há c´anos era uso os tomarenses aproveitarem o aniversário citadino para invadirem o Continente de Leiria. Eivado de grandiosa generosidade, o Ti Belmiro de Azevedo construiu o “Modelo”em Tomar, infra-estrutura mais iluminadora do comércio do que então as famigeradas aparições das santas do 14. Abreviando, entrementes a diversidade tem levado o pessoal a pirar-se no dia do aniversário da cidade para outras metrópoles, Lisboa onde há um centro comercial a cada esquina, Coimbra porque agora se chega lá mais depressa do que à Serra de Tomar. Paga-se portagens mas quem usa a Via Verde nem dá pelo pagamento, pelo menos por uns dias até a via verde amadurecer na conta.  
                Dos poucos tomarenses restantes na cidade no dia do aniversário, alguns filantropos decidem arrastar-se até à Praça da República. Pelo menos em anos anteriores era assim, este ano não fomos porque nos esquecemos de comprar uma gravata nova e naturalmente não íamos usar a mesmo do ano passado por causa dos remoques “Aquele mal enfarpelado nem tem dinheiro para se produzir”. Também é verdade. A festa vive muito dessa produção visual.
                Em anos anteriores, Praça de República palco da festa de aniversário da cidade, sempre entendemos emocionante o perfilar dos garbosos cavalos, a meia-lua associativa, o içar das bandeiras nas janelas autárquicas, excepto as de trás, o senhor executivo camarário a depor a coroa no pedestal de D. Gualdim. Depois os enternecidos cumprimentos, quiçá com as associações a segredarem à dona câmara “Não se esqueça de mandar o cheque”. A compor a festa, os cavalos não se esqueciam de largar umas valentes bostas. Chegou a sugerir-se trazerem fraldas… os cavalos.
                Este arrazoado para compor o atrevimento deste simples plebeu também poder desbragar opinião sobre as medalhas que alegadamente a dona câmara devia ter atribuído. Aqui ficam, ressalvadas as outras opiniões naturalmente mais qualificadas. Antepondo-nos a eventuais divergências, será curial circunstanciar quanto o nosso destrambelho se deve a vivermos um período de elevada perturbação mental, atendendo ao extremo de, por exemplo, muitos tomarenses, onde nos incluímos, ainda não se terem resignado à perda do Quartel-General (por mais esforços desenvolvidos, ainda não foi possível encontrá-lo), assim como muitos tomarenses acreditarem no privilégio sustentável do tesouro dos Templários ainda se encontrar a render juros. Além disso, vejam lá bem, quem diria, a prestigiada Simone de Oliveira, figura nacional, intérprete de canções de reconhecido mérito, está a esfolar o rabo da sua carreira como vendedora do Calcitrin. Falando nisso, em ganhar uns extras, ora bolas, esquecemo-nos de ir ao casting para a nova novela da SIC, a rodar em Tomar, calhando aproveitando o cenário da roda.   

As medalhas que a dona câmara devia ter atribuído e seja o que Deus quiser

Medalha munícipe mais popular - A atribuir ao ex-vereador, Carlos Silva, por integrar todos os grupos de comensais almoçadeiros/jantareiros, nomeadamente os segundas, os terças, os quartas, os quintas, os sextas, os sábados, os domingos e os feriados.
Medalhas mérito assembleia-geral e orgulho de ser o último - A atribuir ao deputado municipal, João Simões, por assumir o cargo de presidente da assembleia-geral de todas as colectividades e por fazer questão de ser sempre o último atleta a cortar a meta nas 3 Léguas do Nabão.
Medalha autarca mais honrado - A atribuir a Gabriel Honrado, presidente da Junta de Freguesia da Pedreira.
Medalha Património da Humanidade - A atribuir aos chocalhos de Asseiceira pela recente qualificação de Património da Humanidade. Assim sendo, Tomar passa a contar com duas atribuições de Património da Humanidade, o Convento de Cristo e os chocalhos de Asseiceira.
Medalha de eficácia e celeridade - A atribuir a todos os serviços municipais que tornaram possível a intrépida façanha da recuperação do edifício do mercado municipal ter demorado apenas cinco anos.
Medalha de mérito municipal - A atribuir a todo o cidadão que tem tentado apontar, tantas vezes sem sucesso, as ratazanas municipais ávidas em perturbar os serviços da autarquia, em especial os processos, mais ainda quando estas ratazanas ruminam por debaixo da mesa.
Medalha de mérito de produtividade - A atribuir aos técnicos superiores que a dona câmara se deu ao luxo de colocar na prateleira, sendo reconhecido a estes técnicos o zelo de não cometerem agora qualquer erro ou omissão na prestação do superior serviço que lhes foi retirado.
Medalha que afinal era falsaA atribuir ao empresário indiano que pretendia investir quase dez milhões de euros na construção de uma destilaria em Tomar mas desistiu do projecto porque não sei quê, não sei quantos.  

Nota - Para o ano quiçá haverá mais se a comemoração do aniversário da cidade ainda teimar em persistir.

Mário Cobra

    

quinta-feira, 3 de março de 2016

PROVEDOR DO MUNÍCIPE


O Município de Tomar aprovou, há cerca de um ano, a criação do Provedor do Munícipe, faltando, ao que sei, questões formais para a sua operacionalização.
Sendo assim ou não, o que importa é que a Autarquia criou tal figura, o que é muito positivo.
Ora… em 16 de dezembro de 2005, a Assembleia Municipal de Tomar aprovou, por unanimidade, uma proposta de minha autoria, enquanto membro da AM eleito pelo Bloco de Esquerda, para criação do Provedor do Munícipe enquanto instrumento de defesa e apoio aos munícipes. Posteriormente, por decisão da Conferência de Líderes, elaborei um esboço de Proposta de Estatuto, em março do ano seguinte, tendo sido assumido a convocação de uma nova reunião da Conferência de Líderes para análise do documento e elaboração de uma Proposta definitiva a apresentar à Assembleia Municipal até 31 de Dezembro de 2006, como implicava a proposta referida: “Assim, proponho que a Assembleia Municipal de Tomar incumba a Reunião de Representantes de Grupos Municipais de estudar as linhas gerais para a criação do cargo acima definido com vista à criação posterior de um Grupo de Trabalho que consolide tais ideias e apresente à Assembleia Municipal, durante o ano de 2006, propostas que contenham o seu Estatuto.”
O curioso é que após a distribuição do texto-base pelos meus colegas da Conferência de Líderes, nenhum outro Grupo Municipal representado na Assembleia sugeriu qualquer alteração e todos os membros da dita Conferência de Líderes impediram a criação do tal Grupo de Trabalho e inviabilizaram a subida do texto para debate e votação em plenário.
Por outras palavras, os líderes dos Grupos Municipais PSD, PS, CDU e Independentes por Tomar recusaram em 2006, de forma nada democrática, dada a decisão de dezembro de 2015 da própria Assembleia, a discussão do assunto no local próprio. Mais: impediram o cumprimento de uma deliberação da Assembleia Municipal!
Curiosamente, dez anos depois surge então o Provedor do Munícipe.
Não sei qual o sentido de voto das formações políticas agora: se todos votaram a favor, se uns contra e outros a favor, e se houve ou não abstenções. Nem me interessa, em boa verdade.
Aliás, é interessante ver como um mesmo Partido, na AM, que há uma década impediu a concretização de uma deliberação da própria AM esteja agora tão impaciente com o atraso na concretização do cargo ora criado…
Mudaram-se as vontades e os interesses, como é natural nestas coisas. Porém, para a nossa pequena História Municipal fica a infantil e preconceituosa postura daquelas quatro formações políticas naquela época.
É caso para dizer que se demorou 10 anos a emendar a mão e a dar razão ao Bloco de Esquerda!


Carlos Trincão

terça-feira, 1 de março de 2016

TOMAR PASSADO E FUTURO

Tomar foi sede de ordem militar e mais tarde de região militar, local de poder nacional, cidade antes de muitas e até antes de muitos países da Europa, a que agora pertencemos, como antes contribuiu para o descobrimento do mundo.
Tomar é para as últimas gerações, mais passado do que futuro.
Tomar é recordação de uma grandeza, militar, económica e industrial, Tomar é recordação de ser a maior cidade entre Coimbra e Lisboa.
Tomar é presente, com o peso de um passado glorioso e marcante, de quem tem património paisagem e história, mas perdeu o futuro.
Tomar é a contradição das pessoas, de modos de vida, de modos de ver a vida e de uma desunião como em  poucos outros locais.
Tomar vive na sombra do que foi e na perda de tudo o que já teve.
Tomar poderia ser, mas já não é o que poderia ser, pois tal como o seu rio que por cá passa e não volta, também as oportunidades passaram.
Tomar só pode ser o que as pessoas de cá quiserem e fizerem, por isso Tomar é o que as pessoas de cá fizeram e quiseram.
Costumo dizer, que por alguma coisa nos Açores, se dão os ananases e na Madeira as bananas, em Tomar temos este conjunto de pessoas, umas cá nascidas, mas uma grande maioria de outros locais a norte e a sul, que manifestamente pouco ou mesmo nada, têm feito no seu conjunto por Tomar, porque existem mais motivos a separar as pessoas, que a unir.
A Tomar falta a indústria, o comércio, o ensino superior, o hospital, os empregos, só para falar do que se poderia aqui ter nos últimos 50 anos, como outros e nós não temos. 
A Tomar falta a união por causas, a união por Tomar e pelas pessoas, a Tomar faltou lideres, que para isso dessem o seu melhor.
Tomar tem muitos treinadores de bancada, mas falta-lhe jogadores que ganhem os jogos. Tomar é muito bota abaixo e nada acima. Tomar é muito faz de conta.
Tomar antes do 25 de Abril de 1974, teve quem junto do poder lhe tratasse dos problemas, mas depois de 1974 nada, por isso o comboio parou em Tomar e a auto estrada A1 passou longe.
Por tudo isto Tomar comemora o seu aniversário no dia um de Março, só com os poderes de circunstância, porque a Tomar basta-lhe o seu passado, para o ser.

António Alexandre

UM DE MARÇO, FERIADO MUNICIPAL PORQUÊ?

Porque o Gualdim Pais aproveitou uma das pedras do castelo para lá inscrever que o iria reconstruir, do que resultou o castelo templário que veio a abrigar o burgo de Tomar até o rei D. João III ter deitado as casas todas abaixo e expulsado os que por lá moravam para prender em “gaiola dourada” os frades da Ordem de Cristo.

Bom, mas na verdade o “1 de março” é um feriado tão bom como outro qualquer, porque feriado quer dizer que é um dia de feira ou, como se veio depois a vulgarizar, um dia de férias  (quando os feriados foram inventados, não havia férias, é só desde há algumas décadas que acumulamos a coisa). E sempre é melhor assinalar um castelo que ali está à espera de melhor uso que o que motivava o antigo feriado municipal: a lenda da Santa Iria.

Quem conta bem as histórias (porque há duas versões) da Iria — ou Irene— é o Almeida Garrett em “Viagens na Minha Terra”, quando aproveita para dizer tanto mal de Santarém (corruptela de Santa Irene) por centímetro quadrado que a gente até se esforça por ler o livro até ao fim…

E então a Iria — ou Irene — era uma donzela cá da zona, na altura chamada Nabância, pelos meados do séc. VII. Namorou-se dela o jovem Britaldo, filho do conde que governava estas terras. Um tal monge Remígio terá dado a Iria uma bebida e ela ficou assim como que grávida. Vai daí o Britaldo manda apunhalar Iria por um criado e lançá-la ao rio, cujo corpo vai descendo pelo Nabão, Zêzere e Tejo abaixo até “aportar” à ribeira de Scalabis. No entretanto, um tal abade Célio, teve uma revelação que lhe descobriu a verdade e os milagres do caso e comunicando-a logo aos monges e ao povo de Nabância, saiu com todos e foi por esses campos da Golegã fora até chegar à Ribeira de Santarém. Ai, benzendo as águas do rio, estas se retiraram corteses e deixaram ver o sepulcro que era de fino alabastro, obrado à maravilha pelas mãos dos anjos. Chegaram ao pé do túmulo, abriram-no, viram e tocaram o corpo da Iria, mas não o puderam tirar, por mais diligências que fizessem. Conheceu-se que era milagre; e contentando-se de levar relíquias dos cabelos e da túnica, voltaram todos para a sua terra.

Esta é a história da santa Iria dos livros. A história da santa Iria das cantigas é mais simples: 

A moça vive em casa de seus pais e um cavaleiro desconhecido, a quem dão pousada, a meio da noite, rouba-a e, chegando a um descampado, pretende fazer-lhe violência… A moça resiste e ele mata-a. Dali a uns anos, o cavaleiro volta a passar pelo local e vê uma ermida levantada no sítio onde cometeu o crime; pergunta de que santa é, dizem-lhe que é de Santa Iria. Ele cai de joelhos a pedir perdão à santa, que lhe lança em rosto o seu pecado e o amaldiçoa.

Por que é a santa Iria da trova popular tão diferente da santa Iria das lendas monásticas? Como diz o Almeida Garret, ou houve duas santas com o mesmo nome, ou nos escritos dos frades há muita fabula de sua invenção.

Que o povo goste de cantar romances, vá, é da sua fantasia, abençoado seja… Agora que a Eclesia venere uma história tão mal contada, cá para mim, nem o papa Francisco ia na cantiga…

Para os curiosos, aqui fica o romance popular:

Estando eu à janela coa minha almofada,
Minha agulha d'ouro, meu dedal de prata,
Passa um cavaleiro, pedia pousada.
Meu pai lho negou: quanto me custava!
— “Já vem vindo a noite, é tão só a estrada…
Senhor pai, não digam tal de nossa casa
Que a um cavaleiro que pede pousada
Se fecha esta porta à noite cerrada.”
Roguei e pedi — muito lhe pesava
Mas eu tanto fiz, que por fim deixava
Fui-lhe abrir a porta, mui contente entrava;
Ao lar o levei, logo se assentava;
Às mãos lhe dei água, ele se lavava;
Pus-lhe uma toalha, nela se limpava.
Poucas as palavras, que mal me falava
Mas eu bem senti que ele me mirava.
Fui a erguer os olhos, mal os levantava,
Os seus lindos olhos na terra os pregava.
Fui-lhe pôr a ceia, muito bem ceava;
A cama lhe fiz, nela se deitava,
Dei-lhe as boas-noites, não me replicava;
Tão má cortesia nunca a vi usada!
Lá por meia-noite, que me eu sufocava,
Sinto que me levam co’a boca tapada…
Levam-me a cavalo, levam-me abraçada,
Correndo, correndo sempre à desfilada.
Sem abrir os olhos, vi quem me roubava.
Calei-me e chorei — ele não falava.
Dali a muito longe me perguntava:
Eu na minha terra como me chamava.
— “Chamavam-me Iria, Iria a fidalga;
Por aqui, agora, Iria, a cansada.”
Andando, andando, toda a noite andava;
Lá por madrugada que me atentava…
Horas esquecidas comigo lutava;
Nem força nem rogos, tudo lhe mancava.
Tirou-a do alfange… ali me matava,
Abriu uma cova onde me enterrava.

No fim de sete anos passou o cavaleiro,
Uma linda ermida viu naquele outeiro,
—“Que ermida é aquela, de tanto romeiro?”
— “É de Santo Iria, que sofreu marteiro.”
— “Minha Santo Iria, meu amor primeiro,
Se me perdoares, serei teu romeiro.”
— “Perdoar não te hei-de, ladrão carniceiro,
Que me degolaste que nem um cordeiro.”

Carlos Carvalheiro

1 DE MARÇO, DIA DE XEQUE-MATE À RAINHA

                Diz a história, podem crer, numa clara manifestação de favor, a rainha D. Maria Anabela de Freitas nomeou Luís Ferreira Costa Cabral conselheiro de Estado, chefe de gabinete, par do reino e elevou-o a conde da parte de baixo de Tomar. Ex-corria o ano de 1845 (2013 no calendário nabantino).
            Na conjuntura, Luís Ferreira Costa Cabral criou a escola da arte, pôs em execução o código administrativo, reestruturou o número de favorecidos e tratou dos intermédios. Fez grandes inventários de arvoredos e bruxedos, mandou enxugar pântanos, construiu e levantou diques, dinamizou a indústria de bichos-da-seda. Em suma, tanto como em sumo, não houve nada em que a sua denodada mão não tocasse, marcando tudo com a forte punção da sua iniciativa tão arrojada quanto organizadora.
            Apesar da oposição e das dificuldades em conseguir manter as forças antagónicas que o apoiavam, o Luísferreirismo&cabralismo beneficiou da nomeação por parte de D. Maria Anabela de Freitas de novos pares do reino, seus apoiantes, que lhe deram a maioria na câmara alta, assim como na baixa.
            Durante esse período, que ficou conhecido pelo Luísferreirismo&cabralismo, este empreendeu um ambicioso plano de reformas, lançando os fundamentos do modernismo, sendo considerado um valido da rainha D. Maria Anabela Freitas. Apesar das suas origens modestas, Luís Ferreira Costa Cabral foi uma das figuras mais controversas do período de consolidação do reino, admirado pelo seu talento reformador, mas vilipendiado e acusado de nepotismo por muitos. A figura preponderante deste estadista, permitiu afirmar que em torno dele girou toda a política que caracterizou o reinado de D. Maria Anabela de Freitas.
            Escudado no exército de apoiantes, na Maçonaria e em clientelas que beneficiavam da política económica e financeira, baseada nas obras públicas e fomento, o Luísferreirismo&cabralismo lançou os alicerces da actual jeitosa situação.
            Em Janeiro de 1846 (2016 no calendário nabantino), o aumento da contestação e o imparável aumento da despesa, levaram ao corte do crédito, tendo o Luísferreirismo&cabralismo entrado em agonia. O descontentamento popular era tal que a mínima agitação ameaçava resultar em sublevação. Perante o alastrar da contenda, muito a contragosto, a rainha D. Maria Anabela Freitas foi obrigada a demitir Luís Ferreira Costa Cabral, que se exilou para Madrid (leia-se Alpiarça).
            Perante a contestação popular, assessores da rainha D. Maria Anabela de Freitas pressionaram-na a tomar medidas, tendo mesmo altos conselheiros do reino oferecido uma fita métrica para sua majestade tomar essas medidas. Alertaram-na:
            - Majestade, o povo tem fome.
            Resposta seca de D. Maria Anabela de Freitas:
            - Já dizia a minha ex-colega, rainha Maria Antonieta, se o povo não tem pão que coma brioches, se não há brioches coma tremoços…
            A propósito, luminosidade na ponta da língua, a rainha ordenou:       
            - Já sei, faça-se uma grande festa no dia 1 de Março, assumindo-se data de comemoração do grande regabofe do reino.
            - Majestade, infelizmente não há dinheiro para foguetes.
            - Faça-se uma colossal feijoada pública, o pessoal que faça a festa e mande os foguetes. 
            - Majestade, os descontentes falam em xeque…
            - Querem um cheque?
            - Sim, majestade, querem um xeque-mate à rainha…

            ******
          

            Mário Cobra

A MÍSTICA TOMAR

 A cidade de Tomar tem uma fantasia, um chamamento muito peculiar que desperta um “mix” de sensações vividas com uma intensidade marcante e muito própria. De difícil explicação, talvez, fruto de um tal esoterismo templário que nos atrai. Existe uma magia muito própria, onde a atracção está presente por quem aqui passa, e é marcado profundamente. Todos os lugares nos marcam, de uma forma ou de outra, mas Tomar é diferente.
  Um rio que leva no seu leito um passado histórico, que a natureza desenhou nos seus traços de água e verdura em volta, coube aos nossos antepassados começando por construir e erguendo lá num alto, um castelo imponente e cheio de misticismo. A cidade de Tomar é por isso um lugar diferente de todos os outros, tem um mistério próprio. Do manto chamado "Nabão", espelha-se os monumentos que confirmam a grandeza desta terra, a existência da multiplicidade de religiões e culturas que aqui esteve presente, e quantas obras e importantes individualidades por aqui passaram, e por aqui ficaram.
  Com um passado tão rico, devidamente reconhecido em todos os livros de história, é tempo de voltar a escrever novos e importantes acontecimentos, neste presente cada vez mais rápido e vivido. Como primeiro artigo, não podia deixar de referir a importância, muitas vezes esquecida que Tomar foi, é, e será sempre.
  Vamos entrar na segunda década do século XXI, Tomar apresenta-se como uma cidade amorfa, sem vida, vivendo apenas do passado, e não baseando o passado para construir um futuro promissor. O legado de Tomar é deveras importante e não deve ser desresponsabilizado de todos nós, que temos a obrigação de contribuir para que as conquistas do passado não tenham sido em vão. Não se pode banalizar o legado que aqui ficou.
  O dia da cidade é o momento ideal para refletir para onde queremos levar, o que queremos deste lugar, e que legado queremos deixar às gerações vindouras. Esta gente, esta Terra chamada Tomar que se torne um local honrado no seu passado, no seu presente e no seu futuro. Como? Inspirando cada vez mais o sentido cívico e o sentido de amor pela terra que nos acolhe.
  Por vezes, caísse na tentação de fazer diferenciação entre as gentes por aqui passam, e as gentes que nascidas aqui. A bem da verdade é preciso perceber que todos nós estamos de passagem, e os ditos “metecos” desta terra devem ser igualmente valorizados e respeitados, pois também vivem e sentem este lugar como deles. Tanto para o bem como para o mal, este lugar marca qualquer um.
  Como um jovem que ama as suas raízes e a sua terra, tenho todo o gosto em dedicar-me a temas, e a dar o meu singelo contributo, daquilo, que em minha perspetiva é importante ser discutido, e ser proposto a Tomar.
  Concluindo, em dia da cidade, a mística de Tomar seja devidamente vivida. Ela existe, ela está no quotidiano deste burgo, em cada esquina, em cada lugar, em cada personagem que conta um pouco da história por quem passa no centro histórico, e sobretudo, pelo legado que está em cada monumento com a sua devida imponência e preponderância na História de Tomar e na História deste País.   

António Pedro Costa

REFUNDAR

O que a historia nos diz é que em 1 de março de 1160 foi dado inicio à construção do Castelo Templário de Tomar, e que em 1162 foi recebido foral de D. Afonso Henriques.
Construir, Fortificar e Territorializar.
Podemos admitir que a fundação de Tomar assentou nestes 3 alicerces. E uma eventual refundação também o pode. Poderão faltar os Cavaleiros, mas a fonte inspiradora pode ser assegurar e divulgar os seus ideais e a sua obra.
Fala-se em refundação porque a Cidade padece desde há algumas décadas de uma crise viral, que lhe ataca os tecidos social e económico e ameaça reduzir a sua significância. Os seus efeitos são visíveis no êxodo da população ou no desaparecimento de empresas e de empregos, e na escassez de iniciativas geradoras de esperança num futuro capaz. Além disso, os empregos que restam evidenciam uma crescente e presentemente perigosa dependência do orçamento do Estado. 
E se assim é, porque não vamos conceber uma refundação genericamente estribada nesses mesmos 3 alicerces?
Construir, em primeiro lugar um paradigma que sirva para orientar e pautar o desenvolvimento, e as iniciativas para atrair investimentos, tendo em vista criar emprego e atrair população.
Onde encontrar esse paradigma, que é uma busca que tantas cidades realizam presentemente? A este propósito, recordo as manifestações de estranheza que tenho encontrado em tantos autarcas que também o buscam, e olham para Tomar e não entendem porque não valorizamos devidamente o que temos de especifico.
Olhemos a partir da Cidade para cima, para o Castelo, e não é então difícil de entender essas manifestações. Da conjugação de esforços, da união de povos e de civilizações que desde sempre nortearam o projeto templário, podemos retirar ensinamentos e utilidades essenciais para ajudar na construção deste capitulo…

Fortificar, a seguir, as vantagens e as especificidades que temos para darem corpo ao paradigma que for eleito, e para diferenciar e potenciar o desenvolvimento. Tratar-se-ia aqui, por um lado, de associar e de integrar as competências e as dinâmicas das comunidades académica e empresarial, em particular. Há que criar conhecimentos e propostas robustas para fixar objetivos e para pautarem os caminhos a percorrer. E os novos fundos comunitários já disponíveis estão vocacionados para apoiarem abordagens destas.      
Territorializar, também, olhando para Tomar como uma das malhas constituintes de um território mais vasto que o Concelho, mas unido pelo mesmo paradigma, de modo a constituir uma rede de parceiros e de iniciativas, públicos e privados, que se possam reforçar mutuamente e concorrer para o objetivo comum, de devolver vida e esperança a comunidades que a perderam, ou estão a perder.           
Na passada semana, a Lusa fez um despacho com noticia acerca de projeto de recuperação do Castelo Templário. Fala-se numa “visão estratégica do monumento” e de “um trabalho em rede, na região e no território, como altamente potenciador do desenvolvimento”. As palavras são da Diretora do Convento, e exibem uma visão com muito interesse. É uma visão exterior à Câmara de Tomar. Iremos perder mais esta oportunidade, oferecida?             

António Lourenço dos Santos

HERANÇAS

Se Gualdim Pais é carne, ferro, território e cidade, Iria é espírito, devoção, povo e nação.
É esta diferença que faz a diferença entre o 1 de março e o 20 de outubro.
Se em outubro, em pleno outono e a caminho do inverno se faz sentir o calor de uma celebração que é identitária de uma comunidade, já em março, em finais de inverno e a caminhar para a primavera, o que se sente é frio celebracional, pesem embora muitos e vários esforços para criar ambiente.
O problema do 1 de março é o seu cariz pouco popular, pois criado por decreto há algumas décadas, alterando o feriado municipal do dia da Padroeira para o dia do Fundador.
Em outubro há feira, pessoas e procissão; em março há desfile, instituição e entidades singulares ou colectivas.
Será outubro mais importante que março?
Não creio. Nem subscrevo.
Porque radicalmente diferentes.
São dois patrimónios irrepetíveis e, curiosamente, oponíveis na sua essência: outubro, de Iria, santa simbólica (Irene e Paz); março, de Gualdim, fero, guardião e comandante de guerra.
Porque os extremos se atraem e complementam.
Todavia, março é também Herança.
De um território que se consolidou, de uma economia que cresceu e se transformou ao longo dos séculos, de ordens religioso-militares que aqui aquartelavam e mandavam noutros territórios, de povos que se sucederam, de povoação com estatuto real, de prioridado com categoria de diocese mundial, de crescimento urbano, de inovação arquitectónica e artística, de personalidades que, na sua singularidade, deram força ao colectivo.
Portanto, ignorando as questões iniciais do território e da nação, de março e outubro, respectivamente, o que interessa mesmo, em cada primeiro de março é saber se somos inequívocos herdeiros daqueles que nos antecederam e se estamos à altura da Herança legada.

Ou se a malbaratamos…

Carlos Trincão

EVANGELHOS DE TOMAR

Em 1317, o tomarense Gil Esteves jurou sobre os evangelhos que aqui, antes de haver castelo, existiu uma nobre cidade cristã. Tinha acabado o Natal e os inquiridores de D. Dinis, de pena em punho, interpelavam os anciãos de Tomar procurando saber sobre a sua antiguidade. Até ao fim desse ano obteriam mais relatos, corroborando a memória deste morador do castelo de Tomar cujo avô, Martim Tinoca, o ouvira da boca de Dom Mendo que morara, cem anos antes, junta à porta do castelo.

Ficavam assim, D. Diniz e a história, a saber que este vale tinha sido ocupado por antigos cristãos, monges beneditinos, dos quais se destacava um Abade Sélio, tio de Santa Iria. Estas declarações aludiam também a uma cidade chamada Nabância, da qual restavam ainda edifícios “além da água”, na margem esquerda do rio. Há quase setecentos anos registava-se assim a história possível.

Em finais do século XIX, Possidónio da Silva, insigne arqueólogo, fundador do Museu arqueológico de Lisboa e arquitecto de Sua Majestade o Rei, conhecedor dos clássicos e também do relato de Gil Esteves, anuncia ao mundo civilizado a descoberta da antiga cidade romana de Nabância, a sul de Tomar. Falava-se mesmo, nos círculos científicos internacionais, de uma “Pompeia Lusitana” !

Por volta de 1885 estas ruínas arqueológicas, situadas na zona de Marmelais de Baixo, teriam já recebido cerca de 10 000 visitantes nacionais e estrangeiros, obrigando mesmo à contratação de um guarda. Esta enchente de forasteiros ávidos de história levou Possidónio a defender, na revista Monumentos Nacionaes, a criação de um Museu de Antiguidades. Entretanto, a estrada de Marmelais de Baixo era conhecida como Estrada da Nabância e, em 1913, a revista Ilustração Portuguesa difunde fotos do local como um importante vestígio romano a visitar.

A par dos monumentos da cidade, esta ruína romana era ponto de atração turístico muito antes dos anos 30, data da abertura das ruínas de Conímbriga.

Contudo, as contingências socio económicas da Iª Grande Guerra terão provavelmente contribuído para uma degradação tal destas ruínas e do seu pequeno museu que, a partir da década de 20, o Coronel Garcês Teixeira, defensor das antiguidades tomarenses e membro da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo – UAMOC, defende que as ruínas sejam soterradas e o espólio histórico sobrevivente recolhido pela UAMOC. Contribuiu também para este processo de esquecimento institucional o facto de aquelas ruínas não pertencerem à “cidade”, idealizada por Possidónio da Silva, mas sim a uma Vila Rústica, uma exploração agrícola cuja casa senhorial era de tal modo sumptuosa que enganou o velho arqueólogo monárquico.

Deste modo, Nabãncia permaneceu no rol dos mitos até à década de 50, aquando da expansão urbana na margem esquerda do rio Nabão. Nessa época são descobertos vestígios de grandes edifícios cuja verdadeira escala será aquilatada apenas na década de 80.
Ao longo destes sete séculos de historiografia tomarense muitos artefactos viram a luz do dia e muitos relatos foram obtidos, tanto de gente insigne como insignificante. Os próprios templários, necessitados de pedra para o castelo, tiveram oportunidade de constatar a presença dos “antigos”.

É já tempo de testemunhar e celebrar todos aqueles que aqui viveram. Tomar merece um repositório da sua memória, onde todos partilhem do conhecimento da história, à semelhança de outras cidades com a mesma escala cultural.


Rui Ferreira