APRESENTAÇÃO

“A TERRA DE QUE A GENTE GOSTA” é expressão que nos agrada. É sentida e é profunda, e é adotada como a ideia força de “TomarOpinião”.

Pretendemos oferecer críticas construtivas e diversificadas sobre os valores, as coisas e as atualidades da nossa terra, e não só. Pretendemos criar um elemento despertador de consciências e de iniciativas de cidadania, e constituir uma referência na abordagem descomprometida desses valores, dessas coisas e dessas atualidades.

Queremos, portanto, estimular o debate, de temas e de ideias, porque acreditamos que dele podem resultar dinâmicas de cidadania, que alicercem mudanças que por certo todos aspiramos.

“TomarOpinião” será um blogue de artigos de opinião e um espaço de expressão livre e responsável, diversificada e ampla.

tomaropiniao@gmail.com


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

CIDADE JARDIM

Carlos Carvalheiro

Muito boa opinião se ouve sobre a beleza dos jardins de Tomar de antanho, praticamente todos ajardinados pelo então presidente da Câmara capitão Oliveira, que veio mais tarde a ser conhecido por general, e a quem se deve o epíteto de “Tomar - Cidade Jardim” (e que o meu amigo Manuel Tereso, quando o conheci numa boleia que ele me deu, denegria dizendo que ele tratava Tomar como se fosse a Quinta dele).

Não me parece que haja desmérito em tratar bem as coisas as coisas públicas. Nem em tratar com cuidado os nossos jardins. Mas os belos jardins que temos na memória e que tantos elogios nos mereciam, foram idealizados para uma cidade pequena, com cerca de 20 mil habitantes, numa altura em que o turismo era incipente.

O mundo mudou.

Hoje o turismo movimenta, para Tomar, muita gente. E com tendência para aumentar. Por isso, o conceito de “jardim” precisaria de ser ampliado, também em área. Se quisermos falar em “jardins”, já não nos podemos limitar ao da Várzea Pequena ou ao do antigo Mouchão. Temos de pensar em espaços verdes, para a esquerda e para a direita, do Açude de Pedra a S. Lourenço.

Com uma frente de rio destas, qualquer turista nos voltaria a reconhecer o epíteto de Cidade Jardim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

JARDIM E PARAÍSO

António Alexandre

Das coisas agradáveis da vida uma será um passeio num bom jardim, isso também porque desde muito novos somos estimulados entre o bom e o mau, entre o inferno e o paraíso e um jardim bem arranjado é por norma, local agradável e que nos estimula as nossas melhores sensações.
Mesmo que em certos momentos distraídos e ocupados, com muitas das coisas ao longo da vida, inevitavelmente o jardim ou os jardins da nossa memoria, estimulam a vontade de os revisitar e usufruir. A mata dos sete montes é lugar mítico de gerações, que por lá andaram em novos e que frequentemente são objecto das mais variadas conversas.
Talvez porque mesmo sem o admitirmos, andamos sempre na procura do que de mais fácil e próximo, se aproxime do paraíso.
Dizer que a Madeira é um jardim, é um clássico, pois ao longo dos anos a ilha conquistou e afirmou essa marca.
Também em Tomar a minha geração, ficou sempre agarrada a esta nossa particularidade de termos uma cidade ao tempo jardim, atravessada por um rio e espaços invulgares como o mouchão a várzea pequena, a mata e o convento, mais tarde o jardim da Praceta Raul Lopes e a Alameda Um de Março.
Tem assim a cidade de Tomar, espaços verdes e rio, que acrescentam ao seu património construído e histórico, potencialidades que muitos que nos visitam ainda enaltecem e que alguns como eu, com memoria, entendemos ser mais uma das nossas riquezas desaproveitadas e algumas das vezes até desprezadas.
Nesta questão dos jardins e a propósito, lembro-me de quando andei mais embrenhado na politica, curiosamente quando António Guterres ganhou as suas primeiras eleições, de um deputado e depois ministro com que eu me dava, me ter dito em Lisboa no Castelo de São Jorge, que na politica temos de todos os dias regar três canteiros, o do partido, do grupo de amigos e o nosso próprio, pois só assim dizia ele nós podemos ter sucesso.
Isto vem a “talho de foice”, ou seja, a propósito de que para o sucesso de Tomar, existem vários espaços que hoje se podem considerar verdes na cidade, a necessitar de uma outra atenção e aproveitamento, sejam os que eu antes destaquei, ou mesmo o mais novo espaço entre a igreja de Santa Maria dos Olivais e as margens do rio. Talvez isso até possa explicar, o pouco sucesso dos vários executivos camarários, ao não regarem suficientemente os canteiros de Tomar.
Tomar tinha na década de 70, uma qualidade superior em relação a muitas cidades, que perdeu nesta questão e não teve nos seus novos espaços verdes os ganhos que podia e devia ter, mais do que culpar e perder tempo com lamurias, é necessário fazer mais e melhor, pois a culpa é de todos no passado e a solução está nos que no futuro se empenhem em fazer mais e melhor.
É assim tempo de em Tomar de se dar uma outra atenção aos nossos jardins, aproveitando melhor as nossas potencialidades nesta matéria, não só acrescentando valor à nossa cidade, aumentado a qualidade de vida dos que cá vivem, mas aumentado o nosso potencial turístico e fazendo igualmente uma aproximação ao paraíso.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Jardins a Tomar


Rui Ferreira

Segundo os especialistas, o termo "jardim" tem uma origem pouco remota em Portugal, porquanto se privilegiava a referência aos hortos de deleite ou recreio, nos tempos medievais. Por sua vez, este termo recolhe a sua origem no "hortus" romano tantas vezes "conclusus" (murado), que não dista muito do cercado ou enclausurado "garth" dos bárbaros nórdicos e saxões,  do qual derivam os actuais "garden", "garten", "kert", "jardin" e "jardine". 

Contudo, estas designações não abrangem todas as realidades. Elas excluem as composições arquitectónicas e vegetais de certa forma condicionadas e desenvolvidas em contextos excedentários nas grandes civilizações do passado. Por exemplo, os jardins milenares de Conimbriga, nem sempre encerrados, quando públicos, mesmo que fechados como "viridia" em peristilos e "hortus", delimitados por alvenarias altas, nas traseiras de casas de ricos proprietários
Acresce ainda que a definição de jardim, se considerado como espaço de deleite e recreio, poderá vir a revelar-se exclusiva quando aplicada a composições maneiristas como o Bosque Sagrado de Bomarzo, Itália, marcadas pela instabilidade, hermetismo e ansiedade ou então obras de feição romântica, como os parques Hafod e Hawkstone, no Reino Unido,  onde  se propiciavam inseguranças, temores e até pavores. 

E o que dizer dos conceitos orientais, onde o "jardim" pode incorporar materiais vivos em perfeita harmonia com materiais "mortos" (inertes) ou, no limite, ser exclusivamente construído de pedras, aparentemente amorfas, de onde, no entanto, se podem absorver sensações que extravasam o plano físico do ser humano?  
Em suma, um jardim pode ser uma coisa complicada!

Em Tomar, outrora cultora do epíteto Cidade Jardim, deveremos utilizar apenas o termo "espaço verde". Este é o termo técnico acertado para a esmagadora maioria das áreas onde é dada à natureza, alguma ... folga.
Não querendo, propositadamente, abordar a Mata dos Sete Montes, cuja problemática permitirá uma abordagem noutro artigo, restam-nos os emblemáticos jardins à beira rio. Cada vez mais institucionalizados, cada vez mais vilipendiados por públicos ávidos de espaço, incapazes de reconhecer neles uma história, um desígnio, uma herança. 

Por outro lado, na parte da gestão, continua a eterna confusão entre um jardim e um canteiro, como se a diferença de tamanhos não acarretasse mais do que a mão de obra. Como se a boa vontade tornasse as plantas imunes à sanha da populaça ignorante e ao inexorável castigo das leis da natureza.
Tomar precisa, de facto, de mais e bons jardineiros ... mas precisa, também, de melhores utentes dos espaços públicos.  

Voltando aos mestres: "jardim: uma intenção, uma composição, um objectivo estético,  uma paisagem, mais do que uma superfície aberta, nem sempre real"

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

JARDINS POLÍTICOS


  António Pedro Costa

O tema deste mês permitiu-me pôr a imaginação ao serviço de um tema muito discutido, a política. É possível criar uma metáfora e comparar o mundo político com um, ou até com vários jardins. Consequentemente, os seres que estão envolvidos nesse campo podemos ver como flores. Aos eleitores chamemos de jardineiros.
Nos jardins políticos, continuamente estão a nascer e a crescer novas plantas. No espaço americano, por exemplo, deparamo-nos com uma flor dourada e reluzente que subiu a um pedestal deixando algumas incógnitas. Será que vai querer relacionar-se com as outras plantas, quer a nível interno, quer a nível externo? Será que vai corresponder aos jardineiros, graças aos quais existe, de alguma forma diferente? Numa pequena reflexão, estou convicto de que o motivo do aparecimento desta flor foi o facto de as plantas que estão tradicionalmente plantadas nos jardins, estarem murchas e sem resposta aos jardineiros, que todos os dias regam as mesmas, não existem melhorias, nem esperança de jardins bonitos.
      Pelo jardim europeu os sintomas de doença são evidentes, pois existem cada vez mais jardineiros desiludidos com as flores que desabrocham. Os jardineiros que plantam as sementes, na expectativa de terem grandes resultados e um jardim estável e bonito, acabam por criar apenas fungos e umas ervas daninhas difíceis de vencer.
        A nível nacional, o horto não é muito diferente. Vivemos num lugar onde há uma predominância de rosas, com umas ervas que dão um pouco de alento às rosas - resta perceber se as borrifadelas e o cheiro que agrada aos jardineiros aguenta. A nível local, temos o nosso pequeno jardim. Tem várias espécies, que vão habitando e digladiando-se entre si com algum entusiasmo. Certas plantas gostam de libertar pólenes que causam alergia aos jardineiros que querem viver pelo jardim tomarense e até tornar este local seu. A ausência de flores consistentes, maduras e revitalizadoras é preocupante. Mas ainda existe esperança num local bonito. Existem sementes prontas a serem cultivadas e os jardineiros já o entenderam. A expectativa de uma boa colheita é real. 
         Concluindo, os jardineiros, hoje em dia tem mais informação, e procuram uma intervenção mais profunda nos canteiros. A exigência para termos o nosso local com uma estratégia, uma organização e um aumento de interesse por parte dos jardineiros, pode estar apenas na escolha madura, responsável e preparada. As sementes estão prontas a ser deitadas à terra.

sábado, 12 de novembro de 2016

AgroALL, RepúblicAALS & ETC


Carlos Carvalheiro

entre setembro soalheiro e novembro tardio de 2016

Tinha eu um artigo do blog do mês de setembro em atraso, sobre “Património”, tinha pensado em escrever sobre o Agroal, a principal nascente do Nabão que esteve quase a ser canalizada nos anos 60 para abastecer Ourém, quando recebo a sugestão para o mês de outubro, “República” e, porque os bloguistas do Tomar Opinião têm o hábito de responder a todos, recebo no meu mail a resposta do António Lourenço dos Santos à sugestão com: “Por mim, viva a REPUBLICAALS”

E pensei eu: Querem ver que aquele gajo, para dizer bem de “todas as repúblicas” teve a mesma ideia que eu de roubar a graça que o Turismo do Algarve fez ao chamar-lhe ALLgarve e passarmos a dizer, em vez de Agroal, AgroALL?

Mas afinal não. Abri o mail e o que lá estava no fim do “viva a República” era “ALS”, as iniciais do dito.

Fiquei mais descansado por que afinal a minha “graça” sobre o Agroal permanecia, sempre podia dizer bem do dito, eu acho que a gente não dá valor ao que tem aqui na nossa região, umas termas tão boas na principal nascente do rio Nabão, a uns 14 km da cidade, na raia com Ourém, fazemos de conta que aquilo fica longe, esquecemo-nos, não ligamos, desmerecemos, etc… e sem esquecer que até vendem por lá pasteis de chícharo, aquela parece que leguminosa que dá o nome a um festival em Alvaiázere, cuja corruptela poderia ser AlvaiAZAR, mas não ficava lá muito bem. Tal como o EntroncaMENTE, embora aquilo da circulação do trânsito o faça com todos os dentes que tem na boca. No Porto, como são uns “caseiros”, inventaram o “Porto ponto”, que se explica muito bem. Se ao menos fossemos da Figueira da Foz, poderíamos sempre utilizar a ideia do meu amigo João Damasceno que insiste que se devia chamar-lhe “FiGAYra da Foz”, para atingir nichos de mercado, se não interessantes, pelo menos numerosos. Mas o melhor que temos por cá é a graça de “quem vai para Abrantes deixa Tomar atrás”, o que não é bem a mesma coisa. Por CÁ não está fácil…

Tal como com o presente blog… Primeiro que a malta se decida a escrever alguma coisa…

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

COISAS E REPUBLICAS

António Lourenço dos Santos

A “Coisa Publica” seria de todos. Pelo, menos dos que assumem a responsabilidade pelo coletivo, o apelo do bem comum, o sentido da missão que é assegurar o bem-estar da comunidade, seja ela qual for: da rua, do bairro, da aldeia, da vila ou da cidade, do país ou do mundo. E que cada um toque sua viola…
Não são isentos de dificuldades, esses sentimentos.  Desde logo, porque a natureza humana não é perfeita. Bem pelo contrario, a pedra bruta prolifera e não busca, muitas das vezes, o polimento. Pena, porque então poderíamos caminhar para o mundo perfeito, da harmonia e da paz.
Mas a “coisa publica” não é tão simples quanto isso. Transformou-se em Republica, logo nos seus primórdios, na Grécia Antiga, e a (necessária?) organização da sociedade e a (inevitável?) estruturação do poder logo iniciaram a perversão da “coisa”. A autoridade do senado e o poder dos magistrados, poderão ser primeiras ilustrações disso mesmo. Teve inicio o afastamento entre a coisa publica e o resto das coisas.
Quero dizer, não parece que a “coisa publica” se possa exprimir com a naturalidade e a espontaneidade que a legitimariam, e que talvez fosse desejável.  Lá surgiram as formas de organização convenientes para regular a vida social e evitar os exageros e devassidões que poderiam advir da livre expressão da vox populi.
Recordo-me aqui de uma questão nuclear que foi colocada num exame oral da cadeira de ciência politica do professor Jorge Miranda nos bons tempos inaugurais da faculdade de ciências humanas da Universidade Católica: o anarquismo, é a ordem desorganizada ou a desordem organizada?
A republica: é a organização da voz do povo, ou é a voz do povo desorganizada?
Mas o que nos intriga são todos os que não querem participar na “coisa publica”.
É um dos inícios da degradação da “coisa publica”, é demissão dificilmente tolerável, é comodismo conveniente, é preguiça mental, é sinal de fraqueza urbana, são argumentos de falacia, é tudo menos cidadania.

Quem quiser que vista a pele.         

domingo, 23 de outubro de 2016

TOMAR É A MINHA REPÚBLICA

Carlos Trincão

Tomar é onde a calma das manhãs tem coisas que a pressa dos dias não permite descortinar. É por isso que só às vezes, quando os olhos, o acaso e a Alma se encontram num mesmo instante, vemos o que está sempre à nossa frente...
A minha cidade é uma viagem no tempo que pode começar logo de manhã, quando acordo e olho a silhueta do Castelo. Ali se guardam os antigos segredos templários; e, no Convento e em cada claustro, novas razões para uma atenção redobrada às preciosidades reconhecidas como Património Mundial, onde espreita a Janela do Capítulo, janela do mundo aberta para a cidade e para o mistério. Ou janela da Cidade a abrir caminhos ao Mundo?
Cidade-Jardim, assim também se chama, a dar a certeza de que aqui sempre a Natureza e o Homem viveram em harmonia. Dir-se-ia que as pedras monumentais, a água e as plantas conjugaram esforços para aqui fazer um lugar de sonho que também se descobre nos pormenores, nas janelas e portais, na serena presença dos antepassados, nas mãos do Povo que enchem as ruas de cor e perfume.
A cidade descobre-se logo pela manhã, ao lado do Nabão a imaginar-lhe o cheiro depois de atravessar a cidade de uma ponta à outra debaixo de um sol danado de bom que vem em força entrando de supetão pelas pessoas dentro.
O rio é um poema serpenteante quando atravessa a cidade. E é também Paz, Tranquilidade, Trabalho e Lazer. No centro, envolve a ilha do Mouchão num abraço ritmado pelo chiar melodioso da Roda árabe.
As minhas histórias do (e no) Nabão são quase mais as da vontade de as ter tido do que outra coisa. Algumas houve a bordo – ou fora de borda – daqueles botezecos de remos e aluguer. Houve outras à borda. Mas as que mais se recordam são as estórias virtuais que uma vida sempre sempre ao lado do rio foi criando: um gosto desmesurado pelo Rio, um desejo muito grande de ser parte disto tudo, uma inveja enorme das aventuras no Rio de outros mais velhos que por aqui folgaram na sua juventude.
Chamem-se-lhe socalcos no rio e a imagem é bem conseguida. Antigamente o Nabão podia muito bem ser uma sucessão de espelhos de água que cada açude de estacaria represava. Desciam o rio, alimentando as terras e as indústrias; chegavam a Tomar e continuavam a alimentar terras e indústrias; e prosseguiam depois, voltando a alimentar terras e indústrias.
Com os açudes casavam as rodas de rega, autênticas pontes ligando as águas às terras. Conta “Nini” Ferreira que “a água encaminhava-se para os canais das rodas em forte corrente. Corria e batia nas penas das rodas. Empurrava-as. A frente das penas, atados nas cintas exteriores iam os alcatruzes que mergulhavam, enchiam, subiam, despejavam nos “tabuleiros” e lá seguia a água para o “calheiro real” e, daí, por canos ou aquedutos. E, assim, chegava a água a hortas e pomares.” Ao som de bucólicas chiadeiras e rangidos das madeiras.
As terras eram – e são – férteis à beira-rio. Nem podiam queixar-se da água com que as rodas as refrescavam. E assim era. Roda após roda. Chiadeira atrás de chiadeira.
Açude após açude. Rápido após rápido. Mouchão após mouchão, ilhas de verdes e frescuras entre o rio e o canal. Como o Mouchão do centro da cidade, este agora em versão de substantivo próprio. Atravessa-se o pontão e esquece-se a urbe. Entra-se numa autêntica catedral de recolhimento a que não faltam sequer imensas colunas a suportar românticos arcos góticos de plátanos, ao mesmo tempo tecto e vitral por onde a luz se entremeia com a folhagem.
Águas de Tomar não são só as do Rio. Também o Mar nos percorre as veias desde tempos imemoriais: desde os tempos em que os Papas eram Bispos de Tomar, desde os tempos em que a igreja de Santa Maria do Olival, não apenas panteão templário, foi matriz da grande diocese que foram as terras descobertas e cujo governo espiritual era responsabilidade dos Sucessores de Pedro. Ou ainda desde aqueles tempos em que Gama, o Almirante das Índias, aqui recebeu a dignidade de Cavaleiro de Cristo directamente das mãos do próprio Rei D. Manuel.
Há até quem diga que o Tesouro dos Templários ainda aqui está escondido; outros, que o que aqui esteve foi apenas um nono desse tesouro; um nono que um cavaleiro português ao serviço do Rei Dinis recebera de Jacques de Molay, em Paris, na véspera da prisão do Mestre dos Mestres; um nono do Tesouro Templário que mais não era do que os mapas marítimos que Henrique, o Navegador e Pai dos Descobrimentos, utilizou para reencontrar o Mundo.
Mas isso são sonhos! Apesar de ser um lindo sonho pensar que a parte do Tesouro que nos coube foi o Conhecimento, não é? Aliás, beleza é o que aqui não falta: quando as mãos do Povo acariciam as matérias rudes, o resultado é sempre uma preciosidade, seja para o paladar ou para os olhos, de tal modo que a Arte de florir as ruas prossegue dentro de casa, florindo os lares com as flores da Natureza.
As mesmas flores cujas pétalas celebram Santa Iria, em Outubro: da Ponte Velha, flutuando na água, pintam-se o Nabão e a Memória com pontinhos de cor.
Flores que se repetem na Festa dos Tabuleiros, a Alma dos tomarenses, com o cheiro das flores, do pão e das espigas de trigo nos tabuleiros que vão à cabeça das raparigas vestidas de branco. Uma festa em que todas as artes e devoções se unem num imenso louvor e em que os tomarenses se unem num único e imenso abraço.
É isto que se faz pela manhã: beber a magia desta cidade, uma magia que não se entende porque apenas se sente. Magia feita de Ruas, de Mouchão, de Castelo, de Festa.
De bocados de cidade que já não existem mas ainda se recordam. Afinal, tudo é mais de sentir do que de ver.

E à noite, quando as sombras sussurram mistérios, há sempre uma luz que nos indica caminhos.

domingo, 16 de outubro de 2016

CAMPOS DE FÉRIAS / A MINHA CASA É A TUA CASA

            Carlos Trincão

O tema é República, mas prefiro “Res publica”, isto é, o que é público, a coisa pública. Daí que…
Decorreu este Verão, sob a dinâmica e eficaz coordenação da Filipa Fernandes e dos responsáveis políticos da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais e S. João Batista, através do programa JUNTANIMA, um conjunto de semanas de férias educativas e recreativas para jovens e crianças do nosso Concelho. De resto, o mesmo já se passara em anos anteriores, o que merece o meu aplauso e estímulo, se é que a minha palavra tem algum “poder” nesse campo (presunção e água-benta…).
Esta questão é-me particularmente grata pois que, trabalhando com crianças, reconheço a importância e a valia desta iniciativa.
Atrevo-me, portanto, a repescar um texto meu de há 10 anos, apresentado na Assembleia Municipal de Tomar, sobre matéria convergente, PRINCIPALMENTE, para dar mais lenha para a Filipa carregar. as ideias nunca estão a mais e podendo haver maneira de as aproveitar, caso interessem, e juntar vontades, todos ganhamos.
Aqui fica, portanto, o meu contributo sobre esta matéria:

Em 31 de Março do corrente [estávamos em 2006], no âmbito do debate sobre o Regulamento das Férias Desportivas, o Bloco de Esquerda produziu uma intervenção na qual sistematizou um conjunto de ideias susceptíveis de corporizarem o embrião de um processo de criação de Campos de Férias Residenciais em Tomar, intervenção essa que suscitou acenos de simpatia por parte de outros membros desta Assembleia.
Afirmámos, então, que voltaríamos a esta temática em altura que o permitisse fazer de modo mais formal, o que acontece agora.
Tendo consciência de que não compete a esta Assembleia intervir neste aspecto, é, todavia, também, nossa obrigação aconselhar ou sugerir ao Executivo as opções que considerarmos adequadas para o enriquecimento do nosso Concelho, pelo que se sistematiza, de novo, aquele conjunto de sugestões:

1 – Criação de Campos de Férias residenciais susceptíveis de acolher jovens de outros pontos do país e do estrangeiro, salvaguardando desde logo uma quota para residentes no Concelho.

2 – Definição das actividades por áreas de intervenção, temáticas ou generalistas (Desporto, Música, Artes Plásticas, Teatro, Acampamento,...) monitoradas por Associações e Clubes locais.

3 – Concretização destes campos com a intervenção de Mecenas e outros (Ministérios – ou Secretarias de Estado – da Educação, Cultura, Desporto e Juventude, Emprego e Segurança Social).

4 – Possibilidade de participação nestes campos de férias de jovens do Concelho oriundos de famílias de menores recursos financeiros em condições de apoio especiais.

5 – Criação de quotas em todos os programas para filhos de cidadãos tomarenses emigrados.

6 – Divulgação deste programa em cidades com afinidades histórico-culturais com Tomar (Viseu ou Santarém, por exemplo), laços de cooperação, como a Rede Europeia das Cidades dos Descobrimentos (Lamego, Castelo Branco, Coimbra, Porto, Lagos, Lisboa, entre outras) ou as Associações de Municípios da Ordem de Cister e com Centro Histórico.

7 – Promoção deste programa em cidades com que Tomar mantém geminações (Haddera, Vincennes), actividade anterior, como a Rede Europeia das Cidades dos Descobrimentos (com cidades em Espanha, Bélgica, Itália e Holanda), Pontedera e Pisa (Festival Sete Sóis Sete Luas), Galway (Irlanda, Rede das Cidades Médias Europeias) e com as cidades do Projecto Les Fêtes du Soleil (Siena em Itália, Beersheva em Israel, Le Kef na Tunísia, ilha de Gozo – Malta e Versailles).

8 – Criação, com os responsáveis políticos das cidades referidas, de condições para que
jovens tomarenses, ou filhos de tomarenses emigrados, possam aí ter acesso a programas similares.

9 – Lançamento do programa de férias “A minha família é a tua família, a tua família é a minha família”, criando uma rede recíproca de famílias acolhedoras de jovens de outros países.

10 – Criação de um projecto paralelo de promoção de Tomar junto das outras cidades a par do projecto de divulgação dos dois anteriores: Campos de Férias e Famílias Acolhedoras.

Assim, e fazendo a “ponte” entre uma proposta e uma recomendação, como por vezes é sugerido, proponho que esta Assembleia recomende ao Executivo a apreciação dos 10 pontos anteriormente sistematizados.

Tomar, 20 de Abril de 2006

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Panorama Cultural Tomarense


Património ou as "Coisas complicadas da Terra Tomarense"

Rui Ferreira


Tomar tem a barriga cheia de património, digo eu. Infelizmente os estômagos cheios provocam indigestões.
Consultando os canhenhos da história, na nossa terra não se tem sabido cuidar e valorizar o património.
Logo nos inícios do século XX, Tomar viu desaparecer uma ruína romana, visitada anualmente por milhares de pessoas, onde inclusivamente chegou a funcionar um pequeno museu.
Hoje em dia, Cardais não passa de um topónimo e os vestígios da sua vila rústica, - casa senhorial romana de proprietários agrícolas -, desapareceram para sempre sob as hortas e o casario moderno.

Após um século de natural e desejado desenvolvimento, as coisitas antigas que por aqui sobrevivem contribuem directa e inequivocamente para a indústria do momento: o Turismo. 

Tenho a certeza que quem nos visita e se detém alguns dias na cidade, não prescinde de visitar o centro histórico onde infelizmente a degradação dos edifícios, a falta de ordenamento das infraestruturas públicas e, sejamos francos, alguma ignorância, contribuem para uma paisagem edificada medíocre. 

A mediocridade com que temos cuidado, e continuamos a cuidar, o nosso património radica, na minha opinião, na nossa falta de formação cultural. Existe uma endémica indiferença pela coisa histórica. 

Por exemplo, há anos manifestei a minha indignação face ao abandono a que a Charolinha estava votada.
Cheguei mesmo a redigir um artigo para um jornal local. O minúsculo edifício do século XVI, escondido lá longe dentro da Mata dos Sete Montes, era como um caderno diário para malfeitores que nem escrever sabiam. Soube ainda que as frestas das suas janelas terão servido de alvo, em competições de pontaria... 

Congratulo-me agora com o restauro que aquele singular edifício sofreu. Graças às vontades do Município de Tomar, do Instituto Politécnico de Tomar e ainda de docentes e alunos do Curso de Conservação e Restauro do IPT, conseguiu-se travar a degradação da Charolinha e acabar com a vergonha que o seu estado nos causava.

Antes da intervenção era este o aspecto da Charolinha.




Após cerca de 500 horas de trabalho de uma equipa do IPT, com apoio logístico do Município de Tomar e do ICN.




Esta casa de fresco onde os frades da Ordem de Cristo se juntavam para, talvez, contar anedotas sobre o Frei António de Lisboa, está agora à nossa disposição mas também à nossa responsabilidade.
Visitem-na.

Fotos: Rosa Magalhães e Alunos do IPT

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

PATRIMÓNIO DESPORTIVO

  António Pedro Costa

 O tema património é vasto mas positivo, porque permite escolher um caminho, ou um sentido do que queiramos dizer. Isto é, não faltam opções de “património” para realizar essa escolha. Sendo um desportista e ex-atleta de futebol federado, é acerca do nosso património desportivo que opino. Dois clubes desportivos pontificam na Cidade.
Foi num deles, talvez o mais representativo do concelho, que com tenra idade comecei nos seus escalões infantis. Orgulho-me de ter jogado futebol no União Futebol Comércio e Industria de Tomar. O União de Tomar para além de um clube emblemático, foi uma autêntica escola de vida. Foi lá que fiz amizades para a vida, onde tive muitas alegrias, algumas tristezas, onde também aprendi. Devo aquele clube um pouco daquilo sou hoje. E digo muito obrigado!
   Contudo, foi também com a experiência futebolística que conheci e comecei a vivenciar determinadas situações sociais e políticas. Infelizmente, não vivi os tempos áureos que o União trouxe a Tomar, quando mobilizava o Concelho. Infelizmente, ao longo do tempo fui constatando o declínio e até uma certa indiferença perante um clube que tanto deu à cidade.
 Ora, o assunto pode ser estudado a nível social e até político. Atualmente, os corpos sociais do União de Tomar, são garantidos por pessoas que lutam por uma causa, e que têm amor verdadeiro à camisola que vestem. Agradeço-lhes, como ex-atleta e como tomarense, o trabalho desinteressado que oferecem ao Clube e à Cidade. Sei que não é fácil gerir um clube, ainda por cima com as condições que existem hoje.
  O património desportivo que Tomar tem, deve-se em grande parte ao União de Tomar. E por vezes parece que é esquecido. As razões podem ser variadas, mas o património de honorabilidade e o valor da instituição União de Tomar devia ser mais considerada por Tomar pela classe política.
  Nas minhas ainda frescas memórias, recordo com grande carinho o respeito que os adversários demonstravam pelo União, por tudo aquilo que representou a nível distrital e nacional, e a ambição que tinham em nos vencer.

  O património do União de Tomar, não pode ser esquecido, nem, ser lembrado apenas em épocas festivas. Quando ao final das tardes vemos o “Estádio” Municipal cheio de crianças (e mais a norte, o campo da Nabância também com as camadas jovens), é reconhecimento, gratidão e orgulho que sentimos. O “União” tem um lugar de destaque no nosso coração, e é um baluarte do património desportivo de Tomar. O tratamento que lhe devemos é de dignidade e grande respeito. 

sábado, 24 de setembro de 2016

MATA DOS SETE MONTES: A FLORESTA DAS LENDAS

Carlos Trincão

Nestes dias em que decorrem as Jornadas Europeias do Património, entendi que poderia ser interessante repescar um artigo que publiquei no semanário Cidade de Tomar, em março deste ano. 
Trata-se de uma abordagem em torno do património vegetal que temos em Tomar. 
O que adianto não é de fácil concretização, tais os problemas a contornar. Nem sei mesmo se, ainda que contornando questões de ordem burocrática e outras que tenham a ver com a tutela do sítio para onde defendo a intervenção, seria possível enveredar por tal caminho. De qualquer modo, arriscando a polémica ou a megalomania com que possa ser vista a ideia que apresento, “pela rama”, aqui fica o meu contributo.

A Floresta das Lendas, a concretizar na Mata dos 7 Montes, seria um projecto de animação turístico-cultural em torno das lendas, mitos, fábulas, histórias tradicionais e contos populares, focando a sua actividade na representação e recriação desse Património Imaterial, contribuindo para a animação, recuperação e conservação do lugar, reforçarando a ligação ao Castelo/Convento e enquadrando o imaginário templário como algo a explorar.
Seria um projecto etariamente transversal, que buscaria formas para ultrapassar constrangimentos meteorológicos e incorporaria conceitos como parque temático, campo de férias, acampamento, centro de recursos e recurso educativo, parque de merendas, percursos de lazer e centro de interpretação da Natureza.
Aliar-se-ia a elementos de captação de visitantes, na cidade, como restauração, alojamento e outros, podendo vir a estimular as autoridades para a criação de outros equipamentos de acolhimento, como uma Pousada de Juventude.
Seria um projecto estimulador do crescimento do caudal de visitantes e de criação de emprego, podendo recorrer a empresas e/ou entidades com actividade convergente.
Como as árvores, seria um projecto em crescimento permanente.
A Floresta das Lendas teria percursos para descoberta de lendas, mitos, fábulas, histórias tradicionais e contos populares assentes nos caminhos existentes ou na criação de ligações adicionais, perenes ou efémeras, terrestres ou aéreas (passadiços), utilizando recursos naturais ou construídos pré-existentes, ou a construir de forma sustentável e livre de ruídos ambientais.
Por exemplo, o conto “A casinha de chocolate” implicaria a instalação de um módulo em madeira (cabana), adaptável a outra história ou lenda, sei lá… o “Capuchinho Vermelho”, em rotatividade a definir, pois que seriam aconselháveis esquemas de exploração renováveis, com rentabilização/adaptação dos recursos físicos naturais ou artificiais, conseguindo-se um “parque temático” sempre diferente, logo potenciador de visitas para os mesmos públicos em ocasiões diferentes. E multiplicar-se-iam as cabanas para diversas histórias durante a visita.
Os seres mitológicos (dragões, grifos, unicórnios, sereias, lobisomens, …) traduzir-se-iam em elementos escultóricos auto e inter-activos: em Cracóvia, um dragão deita fogo regularmente ou quando é enviada uma sms para determinado número; ora, pelo mesmo modo bateriam asas do Pégaso, o Minotauro rugiria ou um dragão fumegaria pelas narinas… Pequenas esculturas de duendes, gnomos, fadas e anões propiciariam pistas e informações.
Os desportos radicais convergiriam para a exploração das histórias: parede de escalada para subir à torre da princesa, rappel para fugir do gigante do castelo das nuvens (uma casa numa árvore), slide para um Ícaro a voar e os tanques da Mata seriam fundamentais para lendas com a água por referencial…
Como exploração educativa, a Floresta das Lendas teria um Centro de Interpretação – filmes, música, vestuário, iconografia, informação adaptada ao tipo de visita (individual, grupo, totalidade, ou parte, da oferta…), biblioteca / mediateca, galeria de autores, atividades plásticas, …
A Floresta das Lendas colaboraria com as escolas e com o Ministério da Educação.
A Floresta das Lendas teria recepção, bilheteira e loja, restaurante e café/bar. Não se trataria de cobrar entradas para a Mata, mas sim cobrar entradas para o usufruto das atividades que se escolhessem, em programas pré-definidos e organizados ou, mesmo, para usufruto autónomo tendo por guias aparelhagem adequada, aplicações digitais para telemóvel ou outras soluções.
Em poucas palavras, a ideia seria levar à Mata dos 7 Montes mais um elemento de atração de visitantes, potenciando-a e exponenciando-a com recursos de outra ordem já existentes, como o Centro de Interpretação Ambiental.


domingo, 11 de setembro de 2016

PATRIMÓNIOS...DE CÁ

António Lourenço dos Santos

Património é muito, mas também pode ser nada.
Património é legado e é herança. E é obra permanente de vida. Património é material, é imaterial, e é humano.
Temos de tudo em Tomar. Pouco estamos a aproveitar, muito a desperdiçar.
Porquê, vá-se lá saber.
Será por falta visão e falta de liderança? Há quem diga que sim. Eu também.
Visão para propor o Rumo e para preparar o Futuro, liderança para conduzir nessa direção. E para agir quando é necessário corrigir rotas ou mudar destinos.
Em qualquer circunstancia, em qualquer caso, o património humano é e será sempre o mais importante. Podemos deter as maiores riquezas e as maiores promessas. Mas se não houver quem imprima rumos, quem trace as bissetrizes, quem afirme por onde, quando e como, e quem as valorize e afirme, pouco ou nada será feito.
E pode vir isto a propósito da situação de uma componente decisiva do nosso património coletivo, que é o Instituto Politécnico.
Noticia de ontem, dá conta de mais uma época de resultados (muito) preocupantes no que toca a preenchimento de vagas disponíveis. Na primeira fase, menos de 1/3 de preenchimento (31%), que contrasta com a percentagem equivalente a nível nacional (85%). Mesmo que se sigam repescagens de “linhas atrasadas”, a situação pode receber algum conforto, mas está muito longe de ser brilhante...
Sugere-nos 2 comentários.
O primeiro tem a ver com a delapidação do Património material e imaterial que é o IPT para Tomar. Património porque é, ou pode ser, alfobre de formação de gerações e de fixação de vocações, como já foi o prestigiado CNA; porque poderia ser Centro de investigação e de produção de conhecimentos que valorizasse outros patrimónios que nos pertencem. Património, pelo que representa de polo dinamizador para a economia da Cidade. Delapidação, porque está consecutivamente a perder posições, a perder cursos e oportunidades, porque parece estar a perder conhecimento e vitalidade.
O segundo tem a ver com o desgaste do Património humano que está a acontecer. Ano após ano, desde há alguns anos, baixa ou estagna o numero de candidatos e continua a existir oferta de cursos que ficam vazios. Abandonam Professores e sai conhecimento. Parece, parece repito, que algo devia ser feito para alterar este estado de coisas, que ilustra também o caso de um rumo que carece de ajustamento. A continuar assim, onde vai parar o Instituto?


sábado, 10 de setembro de 2016

FATIAS DE TOMAR: PATRIMÓNIO PARA QUEM?


Carlos Trincão

Leu-se há poucas semanas na web, nos jornais e ouviu-se na TV que Bruxelas classificou o Pão de Ló de Ovar como produto protegido, sendo o 17.º produto português a receber a designação pela Comissão Europeia com a Indicação Geográfica Protegida (IGP).
Ainda pela Imprensa, deu-se a conhecer a todo o País que o “Pão de Ló de Ovar - e a sua miniatura conhecida por Infantes - é um produto de pastelaria à base de ovos, sobretudo gemas, açúcar e farinha. Apresenta-se dentro de uma forma revestida com papel branco, com o formato de uma 'broa', de massa leve, cremosa, fofa e de cor amarela designada por 'ló'. Tem uma côdea fina acastanhada dourada levemente húmida e com o interior de textura húmida. O produto é confecionado no concelho de Ovar, freguesias de Esmoriz, Cortegaça, Maceda, Arada, Ovar, S. João, S. Vicente e Válega.”
Ainda bem, tanto mais que outros produtos gastronómicos portugueses tinham sido já, anos antes, defendidos e certificados.
Quando li a notícia pela primeira vez, no Facebook, teci um comentário em que a certa altura referia que não é com festivaizinhos de doces conventuais que íamos lá (ou coisa que o valha), isto é, que defendíamos convenientemente e com garra as Fatias de Tomar, o doce tomarense por excelência.
Faz agora (já fez, em fevereiro) 10 anos, apresentei na Assembleia Municipal, em nome do Bloco de Esquerda, uma proposta sobre Doçaria Tradicional assente no Programa Eleitoral e na vertente da nossa Proposta de Plano de Desenvolvimento Concelhio, que aqui me dispenso de referir, na qual, com o triplo objectivo de defender e promover a cultura gastronómica tomarense, reforçar a promoção turística de Tomar e estimular uma dinâmica económica em torno das “Fatias”, se propunha à Assembleia Municipal que sensibilizasse o Executivo para a vantagem da criação de um “momento gastronómico” anual potenciador das “Fatias de Tomar”, se possível ainda durante o ano de 2006, para a vantagem do registo da patente da “panela tradicional” em benefício dos artesãos locais que ainda a produzem e para a criação do “Núcleo da Latoaria” no âmbito do Museu Municipal de Tomar.
Na altura, o PSD, talvez a pensar que se estava a falar de um qualquer assunto perigoso e fracturante da sociedade, inviabilizou a proposta. Mas teve a hipótese de se redimir, em abril do mesmo ano, quando voltei à carga.
O problema foi depois!
Primeiro que o Executivo decidisse dar corda aos sapatos passaram-se eternidades e quando, enfim, a coisa nasceu, apresentada nos Lagares d’El Rey pomposamente, mas sem pompa, e circunstancialmente, mas sem circunstância, dei por a mim a pensar: Caramba… mas não foi nada disto que a Assembleia Municipal aprovou!” Ainda por cima, algo que tinha nascido por causa das “Fatias”, era acompanhado com uma degustação de “Beija-me Depressa”…
De facto, foi criado, à moda de Alcobaça, mas muito mal copiado, um festivalzito de doces tradicionais tomarenses, prolongado no tempo de umas semanas mas sem um momento verdadeiramente catalisador e captador de visitantes. Ainda aí veio a televisão, uma vez, parece. De fugida e no meio de um dos programas de animação das manhãs.
Bem… quando se faz uma coisa a copiar outra, como o festival de Alcobaça, que até tem promovido a criação de novos produtos, fica-se sempre por baixo porque, simplesmente, estamos a copiar e a não dar alma.
Resultado: a coisa ficou, ficou, ficou:
As Fatias ficaram para trás na sua defesa, certificação e promoção. A panela OVAL ficou CIRCULAR. O apoio aos artesãos ficou no papel. E o Núcleo da Latoaria ficou no esquecimento.
E agora que a Câmara já não é PSD, mas de Partidos que aprovaram a dita proposta de há dez anos… deixam tudo na mesma.
Eu sei que as Fatias são uma bomba calórica que deve fazer mal como sei lá o quê e que dá uma trabalheira de se lhe tirar o chapéu. Deve ser por isso que não lhe ligam nenhuma.

É o que temos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

CRIME - O ILÍCITO DESINTERESSE

  António Alexandre

É suposto que a cidadania, principalmente em democracia, nos dá e garante direitos, mas também nos obriga, no interesse geral e da própria comunidade, a certas regras, leis e convenções, tanto a nível do nosso país como do mundo em geral.
Existem assim questões que nos limitam, nos condicionam, mas também nos garantem certas coisas, que vão desde a segurança de pessoas e bens, regulam tudo ou quase tudo das nossas vidas, incluindo as relações comercias os direitos dos cidadãos em geral, mas também dos desprotegidos, dos mais novos, dos mais velhos, dos animais, do ambiente, da forma como o estado deve ser gerido, das instituições públicas e privadas, da velocidade com que podemos andar nas estradas, onde se pode fumar e o que podemos beber, quando se conduz um automóvel e mais uma interminável lista de coisas.
Estamos por isso mesmo, sem algumas vezes darmos por isso, obrigados a leis e normas, que uma vez ultrapassadas podem vir a ser consideradas crime e por isso mesmo condenados a indemnizar a sociedade, algumas vezes ressarcindo a sociedade pela perda cometida, por esses crimes e outras vezes como castigo desse crime, aos interesses da sociedade seja ela local, nacional ou internacional, da empresa e ou do cidadão.
Tudo isto nos leva também para a actual banalização e para a desvalorização dos muitos crimes, que todos os dias nos chegam ao conhecimento, sejam eles de pequena monta ou de milhões, de uma morte ou de milhares de mortes.
Quantas vezes uma má gestão, de um banco, de uma empresa pública ou privada, de uma junta de freguesia, câmara, ipss, ou até de um governo, fica sem castigo e é inclusive desvalorizado pela comunidade.
Questões em que devemos refletir, para mais quando vivemos tempos difíceis, pois na minha opinião os cidadãos em geral, pelo desinteresse que demonstram por muitas destas coisas, são eles também culpados dos crescentes casos e do aumento dos prejuízos causados à sociedade.
“Uma conduta só será considerada criminosa se for típica, ilícita e culpável, uma vez que os motivos e objetivos subjetivos do agente, são analisados e decisivos para a caracterização ou não da Infração. A conduta só será considerada criminosa, se for reconhecido o dolo na motivação do agente criminoso, ou a culpa, quando a Lei Penal expressamente prever esta possibilidade.”
Por tudo isto e uma carrada de outras coisas, que muitos de nós sabemos, vemos e calculámos, são constantemente e diariamente praticados crimes, passiveis de culpa por ai, no país e no mundo, que não chegam ao local certo que seria o tribunal, mas pela sua banalização tem o desinteresse dos cidadãos, coisa que me parece passível de ser também isso considerado crime.
Claro que o tema no levava horas a discorrer, pois se entrássemos por certas áreas, como os crimes do colarinho branco, com gravata ou sem gravata, muito se poderia dizer, tal como dos que se servem em proveito próprio dos lugares, dos que ocupando certos lugares nada fazem para cumprir essas obrigações, ou dos que nos governos são os diretamente culpados por milhões mortos, mas em tempo de guerra não se limpam armas e o tempo que vivemos é de guerra, económica, de valores e de apropriação dos bens comuns, assim parece-me que nem um possível Secretário Geral da ONU Português, nos poderá salvar na minha opinião e pelo que se vai vendo, cá em Portugal e no mundo.

domingo, 31 de julho de 2016

A ARTE DE BEM RECEBER

  Mário Cobra

Em tempo de calor, turismo em frenesim, a autarquia tomarense muito se esforça por receber os visitantes de forma galharda mas uns tantos residentes parecem não compreender. Dever ser da brasa que até assa canas (há sacanas).
Graças as aspersores dos jardins dirigidos para a via pública, os visitantes são presenteados com um banho absolutamente gratuito. Faltará apenas o aviso aos incautos “Venham visitar Tomar trajando calção de banho”. 
Outra motivação será o executivo, com base em estratégias de executivos anteriores, poder receber os visitantes em parque de estacionamento subterrâneo cuja construção terá sido a mais cara do mundo. Isso sim, é obra. Nas traseiras dos Paços do Concelho.   
Nos próximos fins-de-semana alargados, os visitantes que pernoitem no hotel serão presenteados com música popular motivadora de uma noite romântica. Imaginamos um casal na cama ardente embalado pela música de Quim Barreiros “Eu gosto de mamar nas tetas da cabritinha”, ou “Vamos brindar, vamos beber, quem faz 69 nunca mais vai esquecer”.
Há dias, domingo quente, visitantes deglutindo o almoço, encostados à espécie de rede que circunda o encerrado parque infantil na zona desportiva. Pessoal sentado nas geleiras. Inconveniente de qualquer geleira aquecer com o bafo do rabo. Outrora existiam ali mesas onde os excursionistas podiam embutir o pitéu. Ora, por falta de mesas, o executivo podia impedir que os visitantes carregados de farnéis ali comessem. Nada disso, no sentido de bem receber, a autarquia permite que os excursionistas comam no chão, de borla. Claro que o povo podia abancar à sombra, na relva, mas desconhecem que só o podem fazer caso se identifiquem como uma excursão templária. Só as festas templárias podem espezinhar a relva porque são a marca turística deste executivo. Não se sabe onde os arautos foram descobrir que D. Gualdim Pais era paladino de festas e romarias mas lá terão os seus investigadores.  
Por outro lado, se os Templários vestem capa, este executivo entendeu estrategicamente vestir a cidade de capim. Assim se pode ler no inconformado “Tomar a dinteira3”. 
- Na outrora bem cuidada Várzea Grande, frente ao Palácio da Justiça e no caminho de quem chega a Tomar pelos transportes públicos, temos o padrão, cuja base está tipo terreno baldio abandonado. (Conforme foto de “Tomar a dianteira)





sexta-feira, 29 de julho de 2016

A PENA DE MORTE

  Carlos Carvalheiro

Eu sei que este blog é para opinar sobre de coisas de Tomar, tendo cada um dos bloguistas aceitado escrever uma vez por mês sobre um tema comum, mas, como o tema de julho é o “crime”, puxa-me mais para escrever a pensar na Europa do que no que se passa debaixo das arcadas da Câmara fora das horas de expediente.

E isto a propósito das recentes declarações do presidente da Turquia, que quer reimplantar a pena de morte no seu país. Ouvi-o na televisão a justificar: “Os Estados Unidos não têm pena de morte? Tal como a Rússia? Tal como a China? Porque não poderá a Turquia tê-la também?”

A argumentação não podia ser mais linear. 

E, no entanto, uma das coisas que distingue os Valores da Europa dos de outros países civilizados (países que põem o primado na Lei e que diferenciam Estado e Igreja) é que, primeiro, foram instaurados, enquanto Valores, o tríptico de Liberdade - Igualdade - Fraternidade, resultantes da Revolução Francesa (séc. XVIII); depois foi abolida a pena de morte (séc. XIX), abolição essa de que Portugal se pode orgulhar de ter sido um dos pioneiros; e, finalmente, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos do Homem (séc. XX), que começa, como a maior parte das pessoas sabe, com a célebre «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos» e que continua com a menos conhecida mas não menos importante «Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros com espírito de fraternidade», declaração essa que, entre outras coisas, ilegaliza o delito de opinião. 

Ora, tendo o presidente da Turquia, na sequência de um putativo golpe de Estado, no mesmo dia e à mesma hora, mandado prender nove mil presumíveis opositores (faz lembrar a prisão de todos os templários de França, na sexta feira 13 de outubro de 1307, ordenada, meses antes, pelo rei Filipe, o Belo), entre juízes, médicos, militares, jornalistas, professores e etc., pelo “delito” de serem opositores, ou seja, por delito de opinião, quer, agora, reimplantar a pena de morte na Turquia, com a intenção clara de exterminar a oposição ao regime sem ser acusado de crime contra a Humanidade.

Talvez se safe deste crime, mas cometeu os dois primeiros: prende por delito de opinião e quer reimplantar a pena de morte. Assim tornará impossível a integração da Turquia na Europa comunitária. 

Ainda bem.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

ALÉM-FRONTEIRAS / AQUÉM-FRONTEIRAS

Carlos Trincão

Tive que intervalar largas semanas, que o tempo, ao contrário do que pensamos, não dá para tudo. Até porque a gente, com a velocidade dos dias não dá pelo passar da vida…
Ainda atrasado no tema do mês passado, transformo-o agora no post livre. O crime fica para outro dia, ainda em Julho.
Frenesim era em Tomar, nos dias seguintes ao 25 de Abril: a sofreguidão por notícias era tanta que as pessoas iam à estação dos comboios esperar os jornais. Os revendedores que ali iam buscá-los, aí logo os vendiam! Improvisavam a banca naquele balcão largo e baixo que separava a área dos passageiros da área de despachos e preparação de carga. Largavam os maços atados, desatavam-nos à navalhada e tinham que ter cuidado com algum cliente mais impaciente que se apressasse a pegar no jornal e se esquecesse de pagar.
Frenesim é agora por essa Europa fora, atentado atrás de atentado. Frenesim é agora na Turquia, golpe atrás de golpe. O problema, para variar, está nos homens, que aqui nem me atrevo a escrever com agá grande.
            O que me chateia é que o pessoal anda todo às turras por causa de nada a não ser esta ideia maluca de querer mandar nos outros à força. E depois, malham uns nos outros em nome do mesmo Pai: Alá, Jeová e Deus.
            Vai para largos anos, quando estive pela primeira vez na Turquia, se houve locais onde encontrei Tolerância com muitos tês maiúsculos foi, precisamente, nas mesquitas. Aliás, as notas de viagem turcas eram invariavelmente escritas nas mesquitas, pernas cruzadas e rabo no chão. O silêncio, o recolhimento e a frescura davam o tom ideal.
Agora, as coisas talvez comecem a ser bem diferentes. Não sei.
Nessa altura, e penso que ainda será, Kornurlar era uma aldeia perdida que nem vem no mapa. Calhava ficar mesmo à borda de um caravanserai da antiga Rota da Seda, entre Bursa e Iznic, a velha Niceia.
            Só isso já dava que pensar: Niceia, Concílio de Niceia quando o Cristianismo tinha dentes de leite, Credo oficial da Igreja… cuja igreja onde tudo aconteceu se visita agora num país de religião islâmica.
            Em Kornurlar, a vida seguia o ritmo não frenético da transumância, razão para que os amigos que ali fiz me dissessem que não precisavam de grandes casas. E realmente…
            As casas são o que são e que eu vi, mas a Mesquita era o seu ai-jesus, passo a expressão: simples, mas um mimo! Porém, o curioso é uma das pedras de uma das paredes exteriores de suporte com uma cruz cristã gravada que me apontavam com orgulho e sorrisos.
            Então porque é que a gente complica as coisas?
          Eu sei que houve a Guerra Santa; mas também houve Cruzadas, algumas tipo-vá-para-fora-cá-dentro, como aquela contra os Albigences, já para não falar da Inquisição ou do saque de Constantinopla. De modo que não vale a pena ir por aí, pois todos têm culpa no cartório. Nem vale a pena falar de minorias fundamentalistas, porque fundamentalistas também são muitas maiorias, islâmicas, judaicas ou cristãs. Ou políticas, mas isso é outra história. Ou não?
            Caramba, porque é que as coisas não são assim tão simples como naquela parede de Kornurlar?


domingo, 17 de julho de 2016

O "CRIME" DA CHINFRINEIRA

Mário Cobra

Há crimes globais, assassinatos. Há dias a esta parte os noticiários televisivos não falam de outra coisa. Até já declinaram as feéricas festas relativas à vitória da selecção nacional.
Há “crimes” nacionais, sejam políticos, sejam financeiros. Seja a situação das instituições bancárias, seja o “festival da sanção europeia ”. Pois, estas questões não cabem numa simples e ligeira crónica. Mais ainda por causa do calor.
Há “crimes” regionais e locais. Exemplo de “crime” regional, quem conhece a situação do caos na urgência do Hospital de Abrantes deve qualificar de atentado à saúde dos cidadãos enfiarem naquela confusão mais uma urgência do serviço de cardiologia. Este será um “crime” pouco saudável para quantos necessitem de recorrer à urgência do Hospital de Abrantes, onde o comum do cidadão acaba por cair, penando tormentas.
“Crime” local de lesa turismo. Tanto quanto foi tornado público, face às reclamações, em especial da gerência do Hotel dos Templários, porque no ano passado a prolongada chinfrineira da festa da cerveja terá atingido foros de fazer perder a paciência a um surdo, o executivo assumiu que este ano o arraial se realizava no mercado municipal, evitando assim molestar os clientes do hotel. Imagine-se quantos decidam vir passar um fim-de-semana a Tomar, no hotel junto ao rio, paisagem idílica (assim seria se fosse) jardins floridos (escrevemos floridos embora soe a vernáculo semelhante). Pois, imagine-se os turistas confrontos com um arraial à cabeceira, tortuosa marca de receber os visitantes. Tanto quanto nos apercebemos, não foi tornada pública a razão do executivo ter retrocedido na intenção assumida, mas deduzimos que os organizadores da festa se tenham recusado a realizar o evento no espaço do mercado. Daí o executivo tenha optado pela solução “Haja festa. Se lixem os turistas. O povinho quer é festas e mais festinhas”. Em nossa modesta opinião, o local certo da realização da festa seria na Praça da República, durante toda a semana, dia e noite, ficando assim o executivo a saber quanto custa gramar o frete.
“Crime” de confundir o género humano com o Manuel Germano será a proposta da câmara ao ministro da Cultura no sentido de se engendrar uma gestão partilhada no caso do Convento de Cristo. Ou seja, um executivo que não consegue sequer resolver questões bem mais simples como seja a limpeza da cidade e do concelho, entende-se capaz de co-gerir o Convento de Cristo. Salvo se a proposta do executivo for no sentido do Ministério assegurar as despesas correntes e os investimentos cabendo à câmara municipal arrecadar as receitas das entradas. Assim vai fazer o executivo na caça à verba ao propor taxar o estacionamento em quase toda a cidade, pelo informado sem atender sequer a uma prática comum de permitir estacionamento aos moradores.
Em termo de receitas à má fila, propomos, por exemplo, a câmara iniciar a cobrança de bilhete de acesso a quem recorrer aos seus serviço, a quem quiser ir ao mercado municipal, a quem quiser entrar nos cemitérios, incluindo os que vão no caixão.
Mais havendo para dizer, fica a sugestão de que os órgãos de comunicação, blogues e quejandos abram uma secção com o título “Crimes urbanos, mazelas rurais”.
Que não lhes doa o teclado.
Outra sugestão, que a câmara promova, em Agosto, a grande festa dos tomates, coisa que por cá em termos autárquicos vai faltando cada vez mais.
Já agora, muita intenção dita popular pode induzir determinado tipo de cheirinho a prevaricação. Caso deste respigo de notícia - "O pátio das cantigas" e "O leão da Estrela" somaram mais de 805 mil espectadores e cerca de quatro milhões de euros. Exemplo de como o mau gosto pode ser compensado, assim dizem os críticos, os maus da fita.
Há sempre também uns maus da festa, ditos politicamente incorrectos, a lamentarem-se das inquinadas repercussões.


sexta-feira, 1 de julho de 2016

MAS QUE RAIO DE TEMA ESCOLHERAM PARA ESTE MÊS - "FRENESIM"

Rui Ferreira

Assim, de repente, este termo de origem grega suscita-me a imagem de um crocodilo, dentro de água, às voltas com uma presa dilacerada na boca ou então milhares de formigas sobre um cadáver... É algo assim, irracional, primitivo, visceral, cru, enfim... animal.
Não deve, por isso, ser estranho que utilizemos este substantivo para aludir a estados anómalos, tanto dos indivíduos como da sociedade. De facto, uma das suas conotações mais comuns é a impaciência. Essa condição afecta-nos, a todos, de um modo atroz. A gestão das expectativas de cada individuo depende de milhares de factores, tanto endógenos como exógenos. Um deles, e talvez o mais importante, é o do prazer ou da auto-satisfação.
O prazer, a satisfação e mesmo a felicidade (consagrada, como direito alienável, na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América) são hoje considerados objectivos legítimos e transversais na sociedade. O sucesso, o poder e o bem estar são chavões publicitários e modelos de vida aos quais, aparentemente, não existe alternativa. Talvez por isso o dever, o serviço e a solidariedade andem pelas "ruas da amargura". As pessoas não pensam, ... reagem. Não procuram, ... é-lhes facultado. Não opinam, ... escolhem de uma lista pré-preparada. Gritam, ... não comunicam. Competem, ... não jogam.
Em 1977, na sua obra "O macroscópio: para uma visão global", o biólogo molecular Joel de Rosnay, escrevia o seguinte:
"Numa região do hipotálamo existem feixes de fibras nervosas que parecem desempenhar um papel essencial no sistema de recompensa do organismo. Se se estimular por meio de descargas eléctricas numa cobaia um destes feixes, o animal desata a comer com voracidade. Em presença de animais do sexo oposto copulará com frenesim. Se lhe deixarmos a possibilidade de ele próprio estimular este centro de prazer, ele próprio entregar-se-á, até à exaustão, a esta actividade narcisista levando a frequência dos estímulos até 8.000 por dia!"
Este cientista e futurista especulava sobre o facto de um ser vivo poder, directamente, estimular aquela região do cérebro (o hipotálamo), considerada a "parte primitiva do nosso sistema nervoso".
Creio que a sociedade humana desenvolveu essa faculdade. A humanidade, cujo desígnio segundo muitos, seriam as estrelas, encontra-se ocupada a tentar estimular o seu "cérebro primitivo", num frenesim de irracionalidade ao qual, nem o vislumbre da morte, parece pôr termo.