Contudo, estas designações não abrangem todas as realidades. Elas excluem as composições arquitectónicas e vegetais de certa forma condicionadas e desenvolvidas em contextos excedentários nas grandes civilizações do passado. Por exemplo, os jardins milenares de Conimbriga, nem sempre encerrados, quando públicos, mesmo que fechados como "viridia" em peristilos e "hortus", delimitados por alvenarias altas, nas traseiras de casas de ricos proprietários.
Acresce ainda que a definição de jardim, se considerado como espaço de deleite e recreio, poderá vir a revelar-se exclusiva quando aplicada a composições maneiristas como o Bosque Sagrado de Bomarzo, Itália, marcadas pela instabilidade, hermetismo e ansiedade ou então obras de feição romântica, como os parques Hafod e Hawkstone, no Reino Unido, onde se propiciavam inseguranças, temores e até pavores.
E o que dizer dos conceitos orientais, onde o "jardim" pode incorporar materiais vivos em perfeita harmonia com materiais "mortos" (inertes) ou, no limite, ser exclusivamente construído de pedras, aparentemente amorfas, de onde, no entanto, se podem absorver sensações que extravasam o plano físico do ser humano?
Em suma, um jardim pode ser uma coisa complicada!
Em Tomar, outrora cultora do epíteto Cidade Jardim, deveremos utilizar apenas o termo "espaço verde". Este é o termo técnico acertado para a esmagadora maioria das áreas onde é dada à natureza, alguma ... folga.
Não querendo, propositadamente, abordar a Mata dos Sete Montes, cuja problemática permitirá uma abordagem noutro artigo, restam-nos os emblemáticos jardins à beira rio. Cada vez mais institucionalizados, cada vez mais vilipendiados por públicos ávidos de espaço, incapazes de reconhecer neles uma história, um desígnio, uma herança.
Por outro lado, na parte da gestão, continua a eterna confusão entre um jardim e um canteiro, como se a diferença de tamanhos não acarretasse mais do que a mão de obra. Como se a boa vontade tornasse as plantas imunes à sanha da populaça ignorante e ao inexorável castigo das leis da natureza.
Tomar precisa, de facto, de mais e bons jardineiros ... mas precisa, também, de melhores utentes dos espaços públicos.
Voltando aos mestres: "jardim: uma intenção, uma composição, um objectivo estético, uma paisagem, mais do que uma superfície aberta, nem sempre real"
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