António Lourenço dos Santos
A “Coisa Publica” seria de todos.
Pelo, menos dos que assumem a responsabilidade pelo coletivo, o apelo do bem
comum, o sentido da missão que é assegurar o bem-estar da comunidade, seja ela
qual for: da rua, do bairro, da aldeia, da vila ou da cidade, do país ou do
mundo. E que cada um toque sua viola…
Não são isentos de dificuldades,
esses sentimentos. Desde logo, porque a
natureza humana não é perfeita. Bem pelo contrario, a pedra bruta prolifera e
não busca, muitas das vezes, o polimento. Pena, porque então poderíamos
caminhar para o mundo perfeito, da harmonia e da paz.
Mas a “coisa publica” não é tão
simples quanto isso. Transformou-se em Republica, logo nos seus primórdios, na
Grécia Antiga, e a (necessária?) organização da sociedade e a (inevitável?) estruturação
do poder logo iniciaram a perversão da “coisa”. A autoridade do senado e o
poder dos magistrados, poderão ser primeiras ilustrações disso mesmo. Teve
inicio o afastamento entre a coisa publica e o resto das coisas.
Quero dizer, não parece que a
“coisa publica” se possa exprimir com a naturalidade e a espontaneidade que a
legitimariam, e que talvez fosse desejável. Lá surgiram as formas de organização
convenientes para regular a vida social e evitar os exageros e devassidões que
poderiam advir da livre expressão da vox populi.
Recordo-me aqui de uma questão
nuclear que foi colocada num exame oral da cadeira de ciência politica do
professor Jorge Miranda nos bons tempos inaugurais da faculdade de ciências
humanas da Universidade Católica: o anarquismo, é a ordem desorganizada ou a
desordem organizada?
A republica: é a organização da
voz do povo, ou é a voz do povo desorganizada?
Mas o que nos intriga são todos os que não querem participar na “coisa
publica”.
É um dos inícios da degradação da
“coisa publica”, é demissão dificilmente tolerável, é comodismo conveniente, é
preguiça mental, é sinal de fraqueza urbana, são argumentos de falacia, é tudo
menos cidadania.
Quem quiser que vista a
pele.
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