Carlos Trincão
Leu-se há poucas semanas na web, nos jornais e
ouviu-se na TV que Bruxelas classificou o Pão de Ló de Ovar como produto
protegido, sendo o 17.º produto português a receber a
designação pela Comissão Europeia com a Indicação Geográfica Protegida (IGP).
Ainda
pela Imprensa, deu-se a conhecer a todo o País que o “Pão de Ló de Ovar - e a
sua miniatura conhecida por Infantes - é um produto de pastelaria à base de
ovos, sobretudo gemas, açúcar e farinha. Apresenta-se dentro de uma forma
revestida com papel branco, com o formato de uma 'broa', de massa leve,
cremosa, fofa e de cor amarela designada por 'ló'. Tem uma côdea fina
acastanhada dourada levemente húmida e com o interior de textura húmida. O
produto é confecionado no concelho de Ovar, freguesias de Esmoriz, Cortegaça,
Maceda, Arada, Ovar, S. João, S. Vicente e Válega.”
Ainda
bem, tanto mais que outros produtos gastronómicos portugueses tinham sido já,
anos antes, defendidos e certificados.
Quando
li a notícia pela primeira vez, no Facebook, teci um comentário em que a certa
altura referia que não é com festivaizinhos de doces conventuais que íamos lá
(ou coisa que o valha), isto é, que defendíamos convenientemente e com garra as
Fatias de Tomar, o doce tomarense por excelência.
Faz
agora (já fez, em fevereiro) 10 anos, apresentei na Assembleia Municipal, em nome do Bloco de
Esquerda, uma proposta sobre Doçaria Tradicional assente no Programa Eleitoral
e na vertente da nossa Proposta de Plano de Desenvolvimento Concelhio, que aqui
me dispenso de referir, na qual, com o triplo objectivo de defender e promover a
cultura gastronómica tomarense, reforçar a promoção turística de Tomar e
estimular uma dinâmica económica em torno das “Fatias”, se propunha à
Assembleia Municipal que sensibilizasse o Executivo para a vantagem da criação
de um “momento gastronómico” anual potenciador das “Fatias de Tomar”, se possível
ainda durante o ano de 2006, para a vantagem do registo da patente da “panela
tradicional” em benefício dos artesãos locais que ainda a produzem e para a
criação do “Núcleo da Latoaria” no âmbito do Museu Municipal de Tomar.
Na altura, o PSD, talvez a pensar que se estava a falar
de um qualquer assunto perigoso e fracturante da sociedade, inviabilizou a proposta.
Mas teve a hipótese de se redimir, em abril do mesmo ano, quando voltei à
carga.
O problema foi depois!
Primeiro que o Executivo decidisse dar corda aos
sapatos passaram-se eternidades e quando, enfim, a coisa nasceu, apresentada
nos Lagares d’El Rey pomposamente, mas sem pompa, e circunstancialmente, mas
sem circunstância, dei por a mim a pensar: Caramba… mas não foi nada disto que
a Assembleia Municipal aprovou!” Ainda por cima, algo que tinha nascido
por causa das “Fatias”, era acompanhado com uma degustação de “Beija-me
Depressa”…
De facto, foi criado, à moda de Alcobaça, mas muito mal copiado, um
festivalzito de doces tradicionais tomarenses, prolongado no tempo de umas
semanas mas sem um momento verdadeiramente catalisador e captador de
visitantes. Ainda aí veio a televisão, uma vez, parece. De fugida e no meio de
um dos programas de animação das manhãs.
Bem… quando se faz uma coisa a copiar outra, como o
festival de Alcobaça, que até tem promovido a criação de novos produtos,
fica-se sempre por baixo porque, simplesmente, estamos a copiar e a não dar
alma.
Resultado: a coisa ficou, ficou, ficou:
As Fatias ficaram para trás na sua defesa, certificação
e promoção. A panela OVAL ficou CIRCULAR. O apoio aos artesãos ficou no papel.
E o Núcleo da Latoaria ficou no esquecimento.
E agora que a Câmara já não é PSD, mas de Partidos que
aprovaram a dita proposta de há dez anos… deixam tudo na mesma.
Eu sei que
as Fatias são uma bomba calórica que deve fazer mal como sei lá o quê e que dá
uma trabalheira de se lhe tirar o chapéu. Deve ser por isso que não lhe ligam
nenhuma.
É o que temos.
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