APRESENTAÇÃO

“A TERRA DE QUE A GENTE GOSTA” é expressão que nos agrada. É sentida e é profunda, e é adotada como a ideia força de “TomarOpinião”.

Pretendemos oferecer críticas construtivas e diversificadas sobre os valores, as coisas e as atualidades da nossa terra, e não só. Pretendemos criar um elemento despertador de consciências e de iniciativas de cidadania, e constituir uma referência na abordagem descomprometida desses valores, dessas coisas e dessas atualidades.

Queremos, portanto, estimular o debate, de temas e de ideias, porque acreditamos que dele podem resultar dinâmicas de cidadania, que alicercem mudanças que por certo todos aspiramos.

“TomarOpinião” será um blogue de artigos de opinião e um espaço de expressão livre e responsável, diversificada e ampla.

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segunda-feira, 18 de julho de 2016

ALÉM-FRONTEIRAS / AQUÉM-FRONTEIRAS

Carlos Trincão

Tive que intervalar largas semanas, que o tempo, ao contrário do que pensamos, não dá para tudo. Até porque a gente, com a velocidade dos dias não dá pelo passar da vida…
Ainda atrasado no tema do mês passado, transformo-o agora no post livre. O crime fica para outro dia, ainda em Julho.
Frenesim era em Tomar, nos dias seguintes ao 25 de Abril: a sofreguidão por notícias era tanta que as pessoas iam à estação dos comboios esperar os jornais. Os revendedores que ali iam buscá-los, aí logo os vendiam! Improvisavam a banca naquele balcão largo e baixo que separava a área dos passageiros da área de despachos e preparação de carga. Largavam os maços atados, desatavam-nos à navalhada e tinham que ter cuidado com algum cliente mais impaciente que se apressasse a pegar no jornal e se esquecesse de pagar.
Frenesim é agora por essa Europa fora, atentado atrás de atentado. Frenesim é agora na Turquia, golpe atrás de golpe. O problema, para variar, está nos homens, que aqui nem me atrevo a escrever com agá grande.
            O que me chateia é que o pessoal anda todo às turras por causa de nada a não ser esta ideia maluca de querer mandar nos outros à força. E depois, malham uns nos outros em nome do mesmo Pai: Alá, Jeová e Deus.
            Vai para largos anos, quando estive pela primeira vez na Turquia, se houve locais onde encontrei Tolerância com muitos tês maiúsculos foi, precisamente, nas mesquitas. Aliás, as notas de viagem turcas eram invariavelmente escritas nas mesquitas, pernas cruzadas e rabo no chão. O silêncio, o recolhimento e a frescura davam o tom ideal.
Agora, as coisas talvez comecem a ser bem diferentes. Não sei.
Nessa altura, e penso que ainda será, Kornurlar era uma aldeia perdida que nem vem no mapa. Calhava ficar mesmo à borda de um caravanserai da antiga Rota da Seda, entre Bursa e Iznic, a velha Niceia.
            Só isso já dava que pensar: Niceia, Concílio de Niceia quando o Cristianismo tinha dentes de leite, Credo oficial da Igreja… cuja igreja onde tudo aconteceu se visita agora num país de religião islâmica.
            Em Kornurlar, a vida seguia o ritmo não frenético da transumância, razão para que os amigos que ali fiz me dissessem que não precisavam de grandes casas. E realmente…
            As casas são o que são e que eu vi, mas a Mesquita era o seu ai-jesus, passo a expressão: simples, mas um mimo! Porém, o curioso é uma das pedras de uma das paredes exteriores de suporte com uma cruz cristã gravada que me apontavam com orgulho e sorrisos.
            Então porque é que a gente complica as coisas?
          Eu sei que houve a Guerra Santa; mas também houve Cruzadas, algumas tipo-vá-para-fora-cá-dentro, como aquela contra os Albigences, já para não falar da Inquisição ou do saque de Constantinopla. De modo que não vale a pena ir por aí, pois todos têm culpa no cartório. Nem vale a pena falar de minorias fundamentalistas, porque fundamentalistas também são muitas maiorias, islâmicas, judaicas ou cristãs. Ou políticas, mas isso é outra história. Ou não?
            Caramba, porque é que as coisas não são assim tão simples como naquela parede de Kornurlar?


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