Carlos Trincão
Tive
que intervalar largas semanas, que o tempo, ao contrário do que pensamos, não
dá para tudo. Até porque a gente, com a velocidade dos dias não dá pelo passar
da vida…
Ainda atrasado no tema do mês passado, transformo-o agora no post livre. O crime fica para outro dia, ainda em Julho.
Frenesim era em Tomar, nos dias seguintes ao 25 de Abril: a
sofreguidão por notícias era tanta que as pessoas iam à estação dos comboios
esperar os jornais. Os revendedores que ali iam buscá-los, aí logo os vendiam!
Improvisavam a banca naquele balcão largo e baixo que separava a área dos
passageiros da área de despachos e preparação de carga. Largavam os maços
atados, desatavam-nos à navalhada e tinham que ter cuidado com algum cliente
mais impaciente que se apressasse a pegar no jornal e se esquecesse de pagar.
Frenesim
é agora por essa Europa fora, atentado atrás de atentado. Frenesim é agora na
Turquia, golpe atrás de golpe. O problema, para variar, está nos homens, que
aqui nem me atrevo a escrever com agá grande.
O que me chateia é que o pessoal
anda todo às turras por causa de nada a não ser esta ideia maluca de querer
mandar nos outros à força. E depois, malham uns nos outros em nome do mesmo
Pai: Alá, Jeová e Deus.
Vai para largos anos, quando estive
pela primeira vez na Turquia, se houve locais onde encontrei Tolerância com
muitos tês maiúsculos foi, precisamente, nas mesquitas. Aliás, as notas
de viagem turcas eram invariavelmente escritas nas mesquitas, pernas cruzadas e
rabo no chão. O silêncio, o recolhimento e a frescura davam o tom ideal.
Agora,
as coisas talvez comecem a ser bem diferentes. Não sei.
Nessa altura, e penso que ainda
será, Kornurlar era uma aldeia perdida que nem vem no mapa. Calhava ficar mesmo
à borda de um caravanserai da antiga
Rota da Seda, entre Bursa e Iznic, a velha Niceia.
Só isso já dava que pensar: Niceia,
Concílio de Niceia quando o Cristianismo tinha dentes de leite, Credo oficial
da Igreja… cuja igreja onde tudo aconteceu se visita agora num país de religião islâmica.
Em Kornurlar, a vida seguia o ritmo não
frenético da transumância, razão para que os amigos que ali fiz me dissessem
que não precisavam de grandes casas. E realmente…
As casas são o que são e que eu vi,
mas a Mesquita era o seu ai-jesus, passo a expressão: simples, mas um mimo!
Porém, o curioso é uma das pedras de uma das paredes exteriores de suporte com
uma cruz cristã gravada que me apontavam com orgulho e sorrisos.
Então porque é que a gente complica
as coisas?
Eu sei que houve a Guerra Santa; mas
também houve Cruzadas, algumas tipo-vá-para-fora-cá-dentro, como aquela contra
os Albigences, já para não falar da Inquisição ou do saque de Constantinopla.
De modo que não vale a pena ir por aí, pois todos têm culpa no cartório. Nem
vale a pena falar de minorias fundamentalistas, porque fundamentalistas também
são muitas maiorias, islâmicas, judaicas ou cristãs. Ou políticas, mas isso é
outra história. Ou não?
Caramba, porque é que as coisas não
são assim tão simples como naquela parede de Kornurlar?
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