Rui Ferreira
Tomar tem a barriga cheia de
património, digo eu. Infelizmente os estômagos cheios provocam indigestões.
Consultando os canhenhos da
história, na nossa terra não se tem sabido cuidar e valorizar o património.
Logo nos inícios do século XX, Tomar
viu desaparecer uma ruína romana, visitada anualmente por milhares de
pessoas, onde inclusivamente chegou a funcionar um pequeno museu.
Hoje em dia, Cardais não passa de um
topónimo e os vestígios da sua vila rústica, - casa senhorial romana de
proprietários agrícolas -, desapareceram para sempre sob as hortas e o casario
moderno.
Após um século de natural e desejado desenvolvimento, as coisitas antigas que
por aqui sobrevivem contribuem directa e inequivocamente para a indústria do
momento: o Turismo.
Tenho a certeza que quem nos visita e se detém alguns dias na cidade, não
prescinde de visitar o centro histórico onde infelizmente a degradação dos
edifícios, a falta de ordenamento das infraestruturas públicas e, sejamos
francos, alguma ignorância, contribuem para uma paisagem edificada
medíocre.
A mediocridade com que temos cuidado, e continuamos a cuidar, o nosso
património radica, na minha opinião, na nossa falta de formação cultural.
Existe uma endémica indiferença pela coisa histórica.
Por exemplo, há anos manifestei a minha indignação face ao abandono a que a
Charolinha estava votada.
Cheguei mesmo a redigir um artigo
para um jornal local. O minúsculo edifício do século XVI, escondido lá longe
dentro da Mata dos Sete Montes, era como um caderno diário para malfeitores que
nem escrever sabiam. Soube ainda que as frestas das suas janelas terão servido
de alvo, em competições de pontaria...
Congratulo-me agora com o restauro que aquele singular edifício sofreu. Graças
às vontades do Município de Tomar, do Instituto Politécnico de Tomar e ainda de
docentes e alunos do Curso de Conservação e Restauro do IPT, conseguiu-se
travar a degradação da Charolinha e acabar com a vergonha que o seu estado nos
causava.
Antes da
intervenção era este o aspecto da Charolinha.
Após cerca de 500 horas de trabalho de uma equipa do IPT, com apoio
logístico do Município de Tomar e do ICN.
Esta casa de fresco onde os frades
da Ordem de Cristo se juntavam para, talvez, contar anedotas sobre o Frei
António de Lisboa, está agora à nossa disposição mas também à nossa
responsabilidade.
Visitem-na.
Fotos: Rosa Magalhães e Alunos do
IPT
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