Assim, de repente, este termo de origem grega suscita-me a imagem de um crocodilo, dentro de água, às voltas com uma presa dilacerada na boca ou então milhares de formigas sobre um cadáver... É algo assim, irracional, primitivo, visceral, cru, enfim... animal.
Não deve, por isso, ser estranho que utilizemos este substantivo para aludir a estados anómalos, tanto dos indivíduos como da sociedade. De facto, uma das suas conotações mais comuns é a impaciência. Essa condição afecta-nos, a todos, de um modo atroz. A gestão das expectativas de cada individuo depende de milhares de factores, tanto endógenos como exógenos. Um deles, e talvez o mais importante, é o do prazer ou da auto-satisfação.
O prazer, a satisfação e mesmo a felicidade (consagrada, como direito alienável, na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América) são hoje considerados objectivos legítimos e transversais na sociedade. O sucesso, o poder e o bem estar são chavões publicitários e modelos de vida aos quais, aparentemente, não existe alternativa. Talvez por isso o dever, o serviço e a solidariedade andem pelas "ruas da amargura". As pessoas não pensam, ... reagem. Não procuram, ... é-lhes facultado. Não opinam, ... escolhem de uma lista pré-preparada. Gritam, ... não comunicam. Competem, ... não jogam.
Em 1977, na sua obra "O macroscópio: para uma visão global", o biólogo molecular Joel de Rosnay, escrevia o seguinte:
"Numa região do hipotálamo existem feixes de fibras nervosas que parecem desempenhar um papel essencial no sistema de recompensa do organismo. Se se estimular por meio de descargas eléctricas numa cobaia um destes feixes, o animal desata a comer com voracidade. Em presença de animais do sexo oposto copulará com frenesim. Se lhe deixarmos a possibilidade de ele próprio estimular este centro de prazer, ele próprio entregar-se-á, até à exaustão, a esta actividade narcisista levando a frequência dos estímulos até 8.000 por dia!"
Este cientista e futurista especulava sobre o facto de um ser vivo poder, directamente, estimular aquela região do cérebro (o hipotálamo), considerada a "parte primitiva do nosso sistema nervoso".
Creio que a sociedade humana desenvolveu essa faculdade. A humanidade, cujo desígnio segundo muitos, seriam as estrelas, encontra-se ocupada a tentar estimular o seu "cérebro primitivo", num frenesim de irracionalidade ao qual, nem o vislumbre da morte, parece pôr termo.
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