APRESENTAÇÃO

“A TERRA DE QUE A GENTE GOSTA” é expressão que nos agrada. É sentida e é profunda, e é adotada como a ideia força de “TomarOpinião”.

Pretendemos oferecer críticas construtivas e diversificadas sobre os valores, as coisas e as atualidades da nossa terra, e não só. Pretendemos criar um elemento despertador de consciências e de iniciativas de cidadania, e constituir uma referência na abordagem descomprometida desses valores, dessas coisas e dessas atualidades.

Queremos, portanto, estimular o debate, de temas e de ideias, porque acreditamos que dele podem resultar dinâmicas de cidadania, que alicercem mudanças que por certo todos aspiramos.

“TomarOpinião” será um blogue de artigos de opinião e um espaço de expressão livre e responsável, diversificada e ampla.

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sábado, 30 de abril de 2016

EU NÃO GOSTO DE ÁGUA


  
Carlos Carvalheiro 

 Eu não gosto de água. Do sabor, entenda-se. Por isso nunca bebo água. À exceção de um copinho de água por ano na nascente dos Pegões, antes de começar a “demanda” dos bolinhos, nos Brasões, no 1º de novembro.

  Mas como um blog sério como este em que aceitei colaborar definiu para tema de abril a água, não sei se por causa do “abril, águas mil”, eis-me aqui a desviar-me do triângulo mais “alavancador” que nos rodeia chamado Nabão, Zêzere e Tejo e a focar-me no negócio de milhões que, quando começou, me pareceu o mais improvável do mundo: a água engarrafada. Por aqui se vê o que eu percebo de negócios, pelo menos no que toca a ganhar dinheiro.
  Em praticamente todo o mundo a sul do Trópico de Cancer, um dos fatores de não desenvolvimento é a falta de agua canalizada. Uma comunidade que tem uma fonte, tem um tesouro.
  Em Tomar, a Fonte da Prata, que ficava ali onde é hoje a rotunda na ponte nova, era local de calhandrice. Quando foi estreado, em 1979, o espetáculo “Fatias de Cá com Nini Ferreira” onde se recriaram quadros de revista à tomarense dos anos 30 a 50, lá estava isso retratado.
  E então, até ao 25 de abril, as pessoas iam às fontes buscar água nos cântaros, mesmo quando já tinham água canalizada, porque achavam a água mais saborosa, tendo umas fontes mais nomeada que outras, como era o caso da da Asseiceira ou da de Marmelais (hoje em dia com uma placa —das pequenas, não das grandes— a dizer “imprópria para consumo”, que tristeza, embora a mim de pouco me sirva a informação, que nem que fosse “própria” eu a bebia…).
  Claro que as águas mais famosas do país eram as “minerais” do Luso ou do Vidago e as gaseificadas Carvalhelhos ou Pedras Salgadas. Também havia as das termas, boas para a saúde mas um bocadinho mal cheirosas, não se pode ter tudo. Mas estas nunca se venderam em garrafas. Ao menos que eu saiba. Quem queria águas das termas, tinha de para lá ir fazer os tratamentos. As outras eram vendidas em garrafas de vidro. Até que, neste últimos anos, apareceram as garrafas de plástico e começou um negociozorro: água engarrafada das mais variadas proveniências. E as pessoas passaram a comprá-la aos garrafões e a andar com garrafinhas na mão a bebericá-la. E o velho copo de água deixou de ser usual.
  E assim se passou a vender um produto que a Natureza nos dá e os serviços municipalizados nos fazem chegar a casa para tomar banho e lavar roupa e loiça mas, para beber, toca a beber da garrafinha, que custa tanto como a bica, o que dá mais de 2€ por litro, chegando a custar o dobro ou o triplo em estações de serviço ou em esplanadas armadas ao pingarelho.
  Coitado do Barrela, se ainda hoje andasse a vender água da Asseiceira numa carroça com cântaros, como o fazia nos anos 60. Distribuía a água por diversas casas em Tomar e o negócio corria bem. Ao menos uma vez, tendo vendido toda a água, e para não perder tempo a voltar à Asseiceira para reencher os cântaros, vai de os encher na fonte de S. Lourenço, à saída de Tomar. Foi apanhado. Por isso, quando passava com a sua carroça cheio de cântaros ouvia do passeio “Queres ser rico?”, ao que o Barrela, fazendo o tchh-tchh com a boca, dizia: “Anda macho… anda cabrão…”.




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