APRESENTAÇÃO

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sexta-feira, 29 de abril de 2016

CONGRESSO DA SOPA OU MIXÓRDIA DA CONFUSÃO?

  Mário Cobra

   Podem existir sadismos encobertos capazes de deduzir vanglórias num amontoado de comensais a correrem para uns caldeirões de sopa e ali ficarem repimpados até saciarem a desmedida gula. Os que vieram atrás se lixem, empurrem, comam relva. Os mais resolutos, beiços lambuzados de bagunça, não largam os entulhos enquanto não rejubilam “Já comi 18 sopas” “Já comi 46”, “Já comi 224”, “Já engoli um caldeirão”, “Gostei mais foi da sopa de corno”. Talvez fosse mais prático ordenar a fila como dever ser (congresso da sopa sem filas é como o Mouchão sem flores) exemplo de um separador em corda obrigando a um pequeno corredor, ao correr das coxas, onde os comensais tenham de aceder aos caldeiros de forma ordeira, sem a confusão do ajuntamento. Complicado?   
    Nos anos já mais passados deste frenesim do congresso, os participantes faziam fila desde a ponte. Os primeiros permaneciam ali desde as 10h00, desespero de serem a vanguarda, torrando a mona ao sol, de pé, soberbo exemplo de tortura por simples mixórdia de couve com feijão para ajudar a festa. Ao meio-dia em ponto, o árbitro apitava para o início da disputa, abriam a cancela e os sôfregos disparavam accionados por molas impulsivas do deixa-me encher a mula antes o mundo acabe. Às sugestões de que seria mais urbano a malta ir entrando para o Mouchão logo que chegasse, evitando assim as filas, as respostas dos responsáveis traduziam-se naquela imposição de serem eles a decidir, eventualmente ufanos por assistirem ao espectáculo das filas. Agora não será tanto assim porque o masoquismo também cansa e o pessoal foi desistindo.  
   Entretanto, sempre anunciado que os lucros do congresso revertiam para o CIRE, entregue o cheque com pompa e circunstância em reunião do executivo, veio a saber-se - afinal o certame dava prejuízo. Milhares de pessoas pagavam bilhete caro e mesmo assim o festim dava prejuízo. Nada relevante caso se atenda a que uma das festas de tabuleiros com meio milhão de visitantes deu fortunas de prejuízo. Lucro nem sequer se admite que dê. Será melhor não se falar disso para não se estragar a folia que tanto orgulha o deprimido burgo.   
   Já agora, se a autarquia não necessita de lucros nos eventos de massas, não entende como, por exemplo, não dispõe de meia dúzia de euros para reparar o parque infantil, certamente útil a quantos nos visitam no congresso da sopa a fim de entreterem os filhos enquanto aguardam a abertura do conflituoso regabofe. No dia 25 de Abril, por exemplo, ouviam-se remoques de grupos de visitantes confrontados com o parque infantil encerrado “ É isto uma cidade turística?”, “Quem viu esta cidade e quem a vê agora”.
    A essa hora, decorria a sessão solene da Assembleia Municipal alusiva ao 25 de Abril certamente com as forças do executivo a apregoar loas de “Viva o 25 de Abril”, “Viva Tomar”. Faltou dizer “Viva o parque infantil encerrado”. A verba despendida nas subvenções aos autarcas pela participação na cerimónia daria para reparar o parque.
            Que o consommé lhes faça bom proveito.


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