Rui Ferreira
Quando era criança acalentava,
naturalmente, opiniões acerca das coisas do mundo.
Lembro-me que uma
delas era sobre os encostos de cabeça nos automóveis. Para mim, esses apêndices
almofadados no topo dos assentos só poderiam servir para simular a presença de
pessoas dentro do habitáculo, afastando os ladrões e garantindo assim a
segurança dos veículos.
Uma outra
relacionava-se com a televisão: Eu afirmava a pés juntos que as motocicletas,
mesmo passando ao longe, provocavam interferências na emissão e causavam uns
riscos ondulados na imagem.
Mas havia mais!... Ó
se havia! No entanto, choques elétricos, cabeças partidas e outras experiências
da vida, foram constituindo oportunidades para ajustar a minha opinião acerca
de muitos assuntos. Em suma, o delicioso exercício da tentativa e erro, o
doloroso raciocínio ou mesmo a pragmática aceitação da opinião de outros
moldaram, e moldam, a minha “maneira de ver as coisas”
Hoje em dia, apesar
de aturados cálculos e experiências, não tenho total certeza de que a luz do
frigorífico se apaga quando fecho a porta. No entanto admiro todos aqueles que
não têm dúvidas. De facto, tanto nas ciências exatas como a demografia, até às
ciências humanas como a história ou a política, constato haver gente que não
sofre de dúvidas. São cidadãos que atingiram o “olimpo da razão”.
Entretanto a “meia
idade” tem-me possibilitado observar alguns fenómenos humanos cíclicos que radicam,
não só na ignorância do percurso dos nossos antepassados, como também na falta
de humildade que certos idealismos inflamam.
Não querendo, de
modo algum, concretizar a minha anterior afirmação, sinto simplesmente pena
que, neste pequeno concelho, se vislumbrem tão poucos entendimentos.
Li um livrito que
acabava assim: “Uma vida de homem só se justifica pelo esforço, mesmo desafortunado,
de melhor compreender. (…) Quanto mais eu compreendo, mais amo, pois tudo o que
se compreende está certo”
Quão banal seria o mundo dos homens se todos tivessem o
conhecimento e a consciência de tudo?
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